Quem
nunca escutou, ao menos uma vez, a música "20 e poucos anos" do
cantor Fábio Jr.? Linda, né? Acredito que o técnico da seleção brasileira de
futebol, Mano Menezes, seja fã da música e passou a escutá-la com frequência
desde que assumiu o cargo da canarinho, em 2010.
Após o
fiasco na África do Sul (copa de 2010), a palavra da época para dar vitalidade
e devolver a seleção o respeito outrora perdido, foi a simples e pomposa:
renovação. Mas o que seria renovar? Podemos entender como o ato de jogar onze
(11) garotos no campo e salve-se quem puder. Porém, tenho a convicção que na
mente da maioria das pessoas, "renovar" pode e deve ser a mescla do
novo e sofisticado com o "velho" e experiente.
Não há
como negar, bem ou mal, que Mano Menezes possui as suas convicções. No entanto,
as mesmas vêm dando certa dor de cabeça para a formatação de um time que possa
bater de frente com as grandes seleções do momento. Não me entendam mal.
Renovar é algo preciso em qualquer área de trabalho. Mas o excesso pode virar
um grande problema.
Parodiando
a música supracitada, a seleção, sem seu contexto, não possui jogadores de 30
ou mais anos. Seria isso um castigo aos medalhões ou simplesmente uma forma de
pensar do treinador? O fato é que essa ausência de experiência vem fazendo falta
nas horas em que a seleção joga mal e um "cara" vai à entrevista e dá
a cara pra bater.
Após
a vitória magra e sem convicção diante da África do Sul na última sexta-feira,
eu peguei as escalações das grandes seleções e fiz a media de idade delas. Que
fique claro: fiz a media apenas dos titulares. Vamos a elas:
Brasil = 23,4
França = 26,4
Holanda = 23,8
Alemanha = 24,9
Inglaterra = 27,6
Bélgica = 24,2
Portugal = 27
Itália = 28,1
Espanha = 25
Argentina = 26
Rússia = 27,9
O Brasil
possui a seleção mais jovem de todas. E, se pegarmos apenas os jogadores de
ataque (Neymar, Oscar, Lucas e Leandro Damião), ela cai para 21 anos.
Um ataque
com media de 21 anos, sem que os jogadores tenham o mínimo de experiência
internacional, dá sinais de preocupação em momentos de decisão que, por
ventura, aconteçam na copa do mundo. Pressão ainda maior por jogarmos em
casa.
Se
pegarmos o último grande gênio que foi ainda novo disputar uma copa do mundo,
iremos perceber que ele tinha um suporte de extrema experiência para resguardá-lo.
Estou falando de Ronaldo Luís Nazário de Lima, o Ronaldo fenômeno.
Na
campanha do Tetra, em 1994, Ronaldo ainda então com seus 17 anos, nem entrou.
Já em 1998, com 21 anos, quando já era o melhor do mundo por duas vezes,
ele era "o cara". Porém, tinha Taffarel, Dunga, Bebeto, Rivaldo para
dar aquela acalmada em momentos mais complicados. Jogadores esses com mais de
30 anos.
Em função
da temática em questão, fiz a media de idade das seleções campeãs mundiais do
século XXI como forma de ter uma percepção mediante essa 'coisa' da experiência
mesclada com a juventude. Números abaixo:
- Brasil
de 2002: 26,3 - Seis jogadores estiveram na copa de 1998 ou outras em copas.
- Itália
de 2006: 28,1 - 11 jogadores estiveram na copa de 2002 ou em outras copas / Alemanha
(país-sede): 26,1 - 10 jogadores estiveram na copa de 2002 ou em outras copas / Brasil:
27,1 - 12 jogadores estiveram na copa de 2006 ou em outras copas
- Espanha
2010: 26 – 10
jogadores estiveram na copa de 2006 ou em outras copas. Brasil: 28,7 – 9 jogadores estiveram na copa de 2006 ou em outras copas
Os
números nem sempre fazem jus ao que está acontecendo. Mas é um grande propulsor
para idealizar ou dar uma ideia do que pode vir a acontecer. Muitos jogadores disputando uma copa já tendo participado de uma anterior.
Nota-se a
crescente media de idade na seleção brasileira nas três (3) copas salientadas.
A Itália foi campeã em 2006 com poucos jogadores abaixo dos 23 anos. A Espanha,
em 2010, rejuvenesceu o elenco, mas a base foi sendo mantida para que jogadores
novatos pudessem ter a tranquilidade em jogar.
A menção
que fiz à Alemanha de 2006 traduz o seu papel atual no cenário futebolístico.
Vice em 2002, a Federação quis um processo de rejuvenescimento para a copa
jogada em casa, 2006. Mas isso já aconteceu em 2002. Tanto que 10 jogadores já
haviam atuado em outras copas. A equipe saiu com um honroso 3ª lugar e muito
aplaudida pela torcida. Já em 2010, a equipe estava mais madura e, novatos como
Thomas Muller e Ozil, puderam jogar tranquilamente com o aparato que havia nas
demais posições. Poderia servir de lição ao Brasil que desde 2007 já sabia que
a copa em 2014 seria em solo tupiniquim.
Os
números que aqui salientei não são verdades absolutas ou concerne um modo único
que deva ser adotado pelo técnico da seleção. Mas ficou claro, mediante os
números e suas comparações, que as grandes seleções e seus jovens valores
possuíram um suporte atrás como experiência. Nosso ataque é jovem. Podem sentir
a pressão. Por que não? “Ah, mas os outros times também tinham atacantes jovens”.
Claro que tinham. Mas os mesmos já tinham experiência de uma copa do mundo. A
idealização de um bom projeto à longo prazo visou isso.
Diante de
tudo isso, qual o problema em convocar jogadores já rodados e que dêem essa
balança na hora de dividir a pressão em um momento tão importante como a copa
do mundo? Qual o problema em convocar os “trintões”? Mano Menezes disse hoje
que se os mesmos estiverem em boa fase vão ser convocados. Ora, bolas! Mas só
agora ele teve essa ideia? Ele vai mesmo deixar jogadores de 20 e poucos anos
serem chamados de pipoqueiros ou tomarem vaias estrondosas sem ao menos ter um
líder, um cara que chame a responsabilidade dentro e fora de campo?
Enquanto
isso vivemos e convivemos com os jogadores de 20 e poucos anos e a música
ficará em minha mente por mais alguns anos. Não é errado adotar essa “estratégia”.
Mas jogar os jovens aos leões também não será de grande valia perante a
exigente torcida brasileira. E o primeiro jogo da copa vai ser em São Paulo. E
o recado já foi dado.
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