quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Bate-bola com a Thaís Picarte

Boa noite, pessoal!

O bate-bola de hoje é com a Thaís Picarte, goleira da Seleção Feminina de Futebol. 

Thaís atua pelo Centro Olímpico (SP), tem 31 anos e foi bastante prestativa. Humildade e simpatia em pessoa.




- Como foi o início da sua carreira? Quem foi o seu grande incentivador?

Foi em Santo André, minha cidade natal. Desde pequena eu sempre gostei de jogar futebol. Meu pai me incentivou desde cedo e, dessa forma, fui tomando gosto pelo esporte. 

"Foi meu pai quem ensinou eu e minhas três irmãs a amar o futebol. Somos sócias de um clube em Santo André, onde havia um torneio de futebol feminino. Lá iniciei minha carreira como amadora. Em janeiro de 1997 meu pai faleceu e, infelizmente, não chegou a me ver em um grande clube. Em março daquele ano, uma das dirigentes me levou para fazer um teste no São Paulo, onde comecei minha carreira no Aspirantes. Minha mãe não queria eu jogando, mas nunca me privou do meu sonho, sempre me apoiando. Ela é minha maior fã"  - disse em entrevista ao LANCE! , em 2009

- Você é formada em Educação Física. Quais caminhos você deseja seguir após encerrar a carreira?

Ainda não tenho em mente algo em específico. Mas assim que parar de jogar, pretendo atuar em áreas menos difundidas, com o intuito de “mostrar” o futebol e dar a minha contribuição para outras pessoas que desejam jogar.

Ser treinadora é uma ideia remota em detrimento da nossa realidade. Quem sabe, treinadora de goleiras.

- Quem são os seus ídolos? (Goleiro ou goleira)

Zetti! Sempre fui fã da sua personalidade, do profissionalismo em campo e da conduta esportiva desse atleta. Era muito legal vê-lo jogar de calça, sua marca registrada – quando a maioria dos goleiros jogavam de short.



- Fala-se sempre em condições desfavoráveis ao futebol feminino. No seu entendimento, onde precisamos melhorar? Por que é tão difícil investir em “algo” que sempre nos deu retorno em campo?

Precisamos melhorar nossa mentalidade, calendário, atrair investidores e criar uma liga independente. No entanto, o maior problema é a falta de apoio. Não possuímos o retorno da mídia, jornais (veículos de informações) pouco falam/relatam sobre nós. Sendo assim, mesmo com os bons resultados, não conseguiremos ter o nosso espaço sem o apoio da mídia.

- Você já atuou na Espanha (Sporting Club de huelva) e Itália (Lazio Calcio Feminile). O futebol de lá, no modo tático e organizacional, é diferente do nosso? Quais as principais diferenças?

É tudo muito similar. No modo tático, não vejo tanta diferença. O grande diferencial encontra-se no aspecto físico e na organização dos campeonatos. Se no Brasil os times não possuem investimento do governo, na Europa a coisa é diferente. Calendário organizado, datas já conhecidas antes de começarmos a jogar, centro de treinamento de qualidade, apoio incondicional. Logo, na hora dos longos torneios, o aspecto físico fala mais alto. A Liga Alemã é um bom exemplo a ser seguido.

- A primeira convocação é inesquecível. Conte-nos como foi a sua.

Mesmo trabalhando duro, foi inesperada. Não imaginei que um dia realizaria esse sonho de criança. Foi um grande surpresa, em 2006, quando eu jogava pelo São Bernardo, ver o meu nome na lista das três goleiras convocadas para defender o meu país. 

- Presente no Mundial de 2011, deve ter sido bem difícil digerir aquele gol da Wambach, no final da prorrogação. Como lidar com esse “quase”, contra os Estados Unidos?

Mesmo vencendo (prorrogação), a tensão era enorme. Eu, lá do banco de reservas, percebi que as minhas companheiras estavam nervosas por causa da pressão que as estadunidenses fizeram no fim da partida. Torcemos para que o tempo pudesse passar mais rápido, mas não teve jeito. Elas (EUA) demonstraram muita frieza e tranquilidade, mesmo com o placar adverso. E isso foi levado para a decisão por pênaltis. Frustração!

- Quais seleções você apontaria como favoritas se o Mundial fosse em 2014?

Alemanha, Estados Unidos, Japão, Brasil e Suécia. As suecas jogam forte, duro, possuem uma liga extremamente organizada que, no fim das contas, faz toda a diferença no momento da preparação.

- Quais seleções evoluíram, de forma absurda, nos últimos anos? Existe algo estrutural para explicar tamanha evolução?

Japão e Canadá!

Vai de acordo com o campeonato interno que elas organizam. A liga é realmente forte, passaram a ter obediência tática, estudam cada vez mais suas adversárias e aprimoraram seus fundamentos dentro de campo. Na América do Norte o esporte feminino é valorizado, respeitado, tendo o apoio maciço das empresas. As canadenses fizeram muitos jogos internacionais, contra seleções de ponta, o que acarreta na franca evolução. Ajuda muito!

Na América do Sul isso não será encontrado. Meu time, o Centro Olímpico, é uma das exceções quando falamos em tranquilidade para trabalhar e boa estrutura para jogar. Quem mais evoluiu foi, sem dúvidas, o Chile...muito mais pela qualidade técnica das atletas.

- A Andréia vinha como titular há muito tempo. Em contrapartida, as chances para você começaram a aparecer. Quais as suas “vantagens” (mental, física ou técnica) para assumir a camisa 1?

Grande goleira a Andréia. O que foi modificado, com louvor, foi a rotatividade com as goleiras. Hoje, cada uma das três convocadas vai ter a sua chance para mostrar serviço. Não estou falando de alguns minutinhos, mas sim, de uma partida completa. Afinal, para chegar ao alto nível, é preciso jogar.

Meu diferencial encontra-se na altura (1,81 m) e as minhas saídas na bola aérea. Foi assim que consegui a titularidade no fim de 2013...através da sequência e das boas partidas que realizei.      

- Excluindo as brasileiras, qual a melhor jogadora do mundo? Por quê? 
OBS: *exceção feita para a Formiga, que é brasileira.

Não de hoje, a Formiga já poderia ser eleita a melhor do mundo. Mas por não jogar na linha de frente e nem fazer tantos gols, é pouco notada. Sem a sua regularidade, que tanto impressiona, as equipes não seriam as mesmas.



- Existe algum sonho ainda não realizado no meio futebolístico? Qual?

Sim! Jogar uma Olimpíada e ganhar uma medalha pelo Brasil. De preferência, em 2016, quando atuaremos em casa. Outro grande sonho é o de ganhar a luva de ouro no Mundial, em 2015.  

- Quais os seus planos para 2014?

Recebi algumas propostas para atuar fora do país. No entanto, prefiro ficar no Brasil por causa da preparação para o Mundial/convocações. Continuar no Centro Olímpico é a grande prioridade para 2014.

- Desde já, gostaria de agradecer sua prestatividade, Thaís. Algum conselho para as meninas que desejam seguir essa carreira?

Não deixem de estudar. É muito importante ter esse embasamento que possa nos ajudar até mesmo dentro de campo.


No mais...dedicação e perseverança. A vida de atleta não é fácil e, por muitas vezes, precisamos abdicar de momentos com a família, festas, a vida social em si. Não desistam!

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Bate-bola com a Geovana Cristina

O bate-bola de hoje é com a Geovana Cristina. Louca por futebol, fã do Özil, atleta amadora e torcedora do Flamengo.


Mais uma vez: o intuito desse bate-bola, bem como outros que fiz, é o de acabar com preconceitos e estereótipos no que concerne o espaço da mulher dentro do mundo esportivo. Espero que vocês gostem, curtam e, quem sabe, compartilhem a ideia com outras amigas. Indo além: com amigos que ainda insistem com essa baboseira de que lugar de mulher é na cozinha.

1) Apresente-se para a galera. Idade, posição em que atua, clube, grande sonho. 

Meu Nome é Geovana Cristina Dos Santos; 15 anos; Ala esquerda e atuo pelo Lins, time do Interior de SP. Acho que o Grande sonho de qualquer jogadora amadora é tornar-se Profissional...e o meu não é diferente

2 ) Como e quando você começou a jogar futebol?

Desde pequena, por volta dos meus 5 anos, já jogava com a crianças. No entanto, atuar em times, só de 2012 para cá. Fui assistir ao Campeonato Internacional sub-17 masculino, em minha cidade. Chegando lá, a "Néia"(amiga da família) disse ao treinador da equipe de Promissão (cidade) que duas meninas (eu e a minha prima) amavam jogar futebol e, naquele instante, estavam assistindo ao jogo. O professor Bruno pediu para que fôssemos treinar e, a partir dos treinos, entramos no time.

3) Ao optar pela tentativa da carreira profissional, você teve o apoio dos seus pais? 

Bem, nunca tive tanto apoio por parte dos meus pais. Eles sempre disseram que o futebol é algo passageiro e, em alguns anos, eu esqueceria tudo isso. Espero que dentro de alguns anos eu possa provar - aos dois - o quão errado eles estavam sobre mim.

4) Recentemente, você citou o nome do Mesut Ozil como grande inspiração. Quais as principais qualidades do alemão? 

Sim, o Özil é uma inspiração para mim. Assim como ele, sou canhota e jogo no meio de campo. Sem contar que ele atuou na equipe pela qual sou apaixonada: o Real Madrid. Fui me apaixonando pelo seu futebol...como não buscar inspiração em um cara que com apenas 25 anos já atuou no Schalke 04, Werder Bremen, Real Madrid e Arsenal? Ele é um monstro dentro de campo. Hoje, é o melhor jogador alemão em atividade.


5) Para quem sonha com a carreira profissional, como conciliar futebol de campo e futsal? Quais fundamentos pode-se levar dos gramados para as quadras?

Acima de tudo, precisamos ter foco, força de vontade e jamais desistir dos nossos objetivos. Acho que podemos analisar os fundamentos/doutrinas de várias maneiras: no campo, podemos ver o quanto somos velozes e aprender a  adaptar tal habilidade dentro de uma quadra. Já o futsal proporciona os dribles curtos e precisos, o que faz do futsal uma arte.



6) Muitas meninas são "atrevidas" e não possuem receio de jogar ao lado dos meninos. Qual a motivação da Geovana para estes momentos?

Os homens ainda são machistas quanto ao futebol feminino. No entanto, sempre joguei contra eles para provar que somos capazes e buscamos nosso espaço dentro do esporte. Minha motivação encontra-se em unir a "comunidade" e tornar tudo uma coisa só. Dessa maneira, provar que a mulher também sabe e pode jogar. Ao escutar elogios, penso que de certa maneira estou mudando o pensamento do meu País, abrindo a mente das pessoas e mostrando que a única diferença encontra-se apenas no "sexo".

7) Quais piadinhas mais lhe incomodam. Por quê?

Que mulher jogando futebol é sapatão ou que não possui uma família. Isso incomoda qualquer jogadora. O recado que deixo: homens que dizem isso não possuem argumentos. Logo, perdem o nosso respeito.

8) Qual a importância do futebol em sua vida? Quais lições podem ser levadas para fora dos campos?

O Futebol é a minha vida, meu tudo, minha essência. Tudo que eu sei/aprendi sobre a moral do ser humano, devo ao Futebol.  Este esporte faz com que tenhamos respeito ao próximo; ser um alguém melhor. O futebol transforma vidas.

(agachada: primeira da esquerda para a direita)

9) Em recente conversa, você citou a importância de estar sempre estudando. Caso não dê certo no futebol, qual carreira você deseja seguir?

Acho que o conhecimento nunca é demais, devemos estar sempre aprimorando nosso aprendizado. Caso minha carreira de jogadora não dê certo, desejo ser Médica. Se o futebol transforma vidas e salva pessoas, sendo médica, estarei fazendo isso de forma mais direta.

10) Muito obrigado pelo papo, Geovana. Quais conselhos você daria para as meninas que sentem-se intimidadas para falar sobre futebol?

O prazer foi meu, Raniery. Não precisamos sentir tal intimidação. Mulher que batalha no futebol, para mim, é rainha. Jogar e assistir futebol só aprimora nossos conhecimentos. Não sintam-se incomodadas para falar sobre o que mais gostamos: o futebol.