quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Elitização no futebol?



Há pouco tempo atrás postei em meu blog a minha insatisfação com os preços abusivos de ingressos nos estádios de futebol e a estrondosa situação que culminaria com a higienização e/ou elitização de quem frequenta as centenas de campos espalhados pelo Brasil.

Ontem, ao ler um dos sites relacionados ao mundo do futebol, tive a curiosidade de dar uma pincelada na matéria feita para o jogo amistoso de sexta-feira entre Brasil e África do Sul no estádio do Morumbi, em São Paulo. Nem bem comecei a ler e fiquei atônito ao saber que o preço mais barato para a partida de 07 de Setembro, data festiva, em horário propício, seria de R$ 80 reais. Como assim? É final de campeonato e não me avisaram?

É claro que o investimento feito é de alta magnitude. Mas será mesmo que a seleção de hoje, tão contestada e afastada do público, ‘vale’ R$ 80 reais para assisti-la? Não seria um tiro no pé mediante o afastamento da torcida e a perda da identidade e até mesmo da não importância com a seleção? Acredito que isso só afasta cada vez mais os torcedores, O POVO, da seleção outrora que atraía milhares de torcedores.

Muito se leva em conta que com os 80 reais, a estratégia é a de que a maioria vai pagar 40 mediante a apresentação da carteirinha de estudante. É preciso relutar também contra os golpes dado pelos “falsos estudantes” para tirar vantagem da situação. O estádio realmente vai ficar cheio? Uma chance em mil que a seleção vem jogar no Brasil. Qual o problema em fazer um preço popular? Qual o problema em reaproximar o povão de sua seleção? Por que elitizar os preços?

Isso não remete somente à seleção. Quantas vezes você, torcedor, deixou de ir ao estádio por causa do alto ingresso cobrado? Se for caro então podemos supor que teremos atendimento de qualidade, trem e ônibus funcionando com linha extra, segurança adequada pra você e sua família. É o que acontece?

Soa-me como tentativa desesperada de encher os estádios na marra, sem planejamento ou estratégia alguma. Sem preocupação com os torcedores que pagam pelo ingresso e precisam pagar estacionamento e se alimentarem durante o andamento da partida. Qual o motivo para ingressos tão caros?

Aqui em minha cidade, Natal/RN, um jogo do campeonato estadual estava custando mais de R$ 30 reais. Que absurdo! Porém, surge aquele papo de que o clube só sobrevive com a renda dos jogos. Mas jogo quarta e domingo, para um país onde a maioria da população não possui condições de pegar R$ 60 reais por semana, é promíscuo. Fora os extras que salientei outrora.

Muitos diretores de clubes fazem isso sem o intuito de levar o povo ao estádio, mas sim de elitizar e encher seus camarotes. Mexe com a questão da higienização de um povo. "Ah, eu quero é que os grandes investidores e patriarcas do dinheiro me reembolsem". Sim, e a população que não é abastada e que ama futebol? Onde fica? Essa ideia difundida por muitas vezes torna-se um estorvo para a grande maioria sem condições financeiras.

A grande realidade está aí no campeonato brasileiro. Público fraco na maioria das partidas. “Ah, mas tal jogo deu mais de 40 mil pessoas”. Garanto que foi em um clássico ou reapresentação de um jogador, ou comemoração de algo em particular ou até mesmo quando um clube encontra-se a beira do rebaixamento e o apelo começa a ser feito.

Isso é recorrente? É preciso extirpar esse mal do futebol. O desinteresse não é o ponto vital do povo. Mas a alta taxa de ingressos cobrada afasta o mais fiel, o trabalhador, aquele que vai ao campo pra ver seu time jogar.

Outra grande arbitrariedade são os ingressos concedidos de forma gratuita as torcidas organizadas. Quando não dessa maneira, podem ter certeza que existe um interesse ou troca de favores de ambas as partes. Isso é justo?

É muita teoria Europeia para um povo Brasileiro (economicamente falando). “Ah, mas a Europa está em crise”. Mas o Brasil está fervendo em maravilhas, né? Na fatia do bolo, a parte que está em alta no que concerne o dinheiro é a já elite que só aumentou seus recursos. Mas os abnegados continuam em busca do seu sustento de cada dia.

O futebol está sendo afastado do povo como se os mesmos fossem um mal para os estádios, como se por ventura, não tivessem o direito de freqüentar aquele local. É até errado de minha parte mensurar isso de forma global. Mas se é o que vejo de norte a sul, então qual conclusão eu posso tirar?

Como antes supracitado, meses atrás relatei esse problema inviável e hoje as coisas não mudaram. Não é que o povo não queira assistir aos jogos. Mas com esses preços abusivos, a maioria vai ao bar mais próximo - que tenha TV a Cabo - e lá mesmo, pagando menos, assiste sentado e papeando de forma segura com os amigos, aos jogos do seu clube de coração. É mais simples, viável e prático.

Estão querendo transformar a “sociedade futebolística” em elite. Estão querendo servir Escargot e Champagne quando o povo quer cerveja/refrigerante e cachorro-quente. Sem contar a elitização de boa parte da sociedade que vive e convive há anos nos estádios de futebol e nem se preocupam com isso.

Queremos preços justos, segurança qualificada, mobilidade/acessibilidade para estacionar os carros. Necessitamos de ônibus e trens que circulem em horários tardios. Queremos futebol. Adoramos espetáculo. Somos fruto de uma nação que é apaixonada por futebol. Queremos ir ao estádio gritar e demonstrar o amor pelo esporte e a paixão pelo clube.

Isso – AINDA – não é o fim.

2 comentários:

  1. Achei muito pertinente a reflexão. Embora o problema tenha muitos vieses, o fundamento é só um ,tristíssimo por sinal. Dinheiro e interesses econômicos vencendo o que há de mais lúdico e importante no futebol, a paixão do torcedor que sustenta o clube... vem sendo assim há tempos, primeiro os jogadores sem mais nenhum apego a camisa que vestem, agora os dirigentes que preferem espectadores que paguem mais do que torcedores de verdade que não encham tanto seus bolsos. A verdade é que quem sustenta o clube é o torcedor comum que deixa de comer pra ir ver o time. Esse sim grita, empurra, perde o sono pelo time. Esse sim faz o time vencer, e sem vitórias, não há clube que sobreviva, principalmente no Brasil. (É Victor, Rany. Hehe)

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  2. Raniery,

    Bom texto sobre um assunto presente no cotidiano de quem ama o futebol e é APAIXONADO por algum clube (ou pela seleção). A mesma discussão poderia ser extrapolada para quem gosta de teatro, música e tantos outros eventos culturais. Infelizmente, os promotores dos eventos mandam e desmandam e quem gosta de futebol (ou de qualquer outro "espetáculo" pago) acaba sendo privado de viver a sua paixão.

    Abraços,
    Sérgio

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