terça-feira, 14 de agosto de 2012

Problemática Olímpica

Após a edição de uma Olimpíada sempre surgem inúmeros debates de como melhorar ou reajustar nosso sistema esportivo. Porém, as respostas ficam à mercê dos nossos 'amados' governantes.

Depois do bolsa família - e outras bolsas do nosso país -,  foi anunciado pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro) o bolsa medalha. Todo e qualquer atleta, de toda e qualquer modalidade, que estiverem entre os 20 melhores no ranking do seu esporte, vão receber de 5 a 15 mil reais mensais. Claro, para atletas de ponta é apenas um acréscimo. Mas e os atletas sem apoio? Nossos governantes acham que contratar professor, nutricionista, médico, fisiologista, entre outros, sai barato? Qual a valorização que esses profissionais vão ter recebendo uma merreca? Sim, porque esse dinheiro vai ser dividido, por exemplo, entre cinco (5) profissionais (ou mais). 

Brasil, com seus 190 milhões de habitantes, tinha tudo para ser uma potência Olímpica. Isso foi frisado pelo até então presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, há dezesseis (16) anos atrás. Passada a data, ele pediu mais oito (8) anos e agora já se fala em mais oito (8). Mas em um país marcado pela corrupção e os desmandos dos governantes, isso é o de menos. Não precisamos de uma potência olímpica, mas sim de uma País esportivo.

O esporte é uma das ferramentas mais limpas e benéficas para a melhoria de um país. Isso não resolve tudo, não me entendam mal, mas já é algo de forte impacto. Ajudaria na melhoria social, educacional, na saúde, na autossuficiência, dentre outros aspectos que muitos cidadãos jamais poderiam imaginar. Precisamos de projetos políticos que atendam, principalmente, as escolas. O profissional de Educação Física precisa do reconhecimento e da disponibilização de recursos para que possam trabalhar. Seria uma via de mão dupla. Traria benefícios para os diversos setores sucateados no país.

Mas o que vemos em todos os jogos olímpicos é o seguinte: quadro de medalhas. Claro, o brasileiro se acostumou e foi acostumado a querer estar na frente, ou ao menos buscar um bom lugar nesse famoso e desnecessário quadro. Já virou uma coisa ideológica. Não nos enganemos. A mídia também tem a sua parcela de 'culpa'. Sempre que abrem o espaço para falar de olimpíadas, qual o grand finale de toda reportagem? Pelo contexto, vocês já devem ter percebido.

Não importa o número de medalhas. De nada vai adiantar o avanço neste quadro se após os jogos todo o trabalho for jogado no lixo. De nada adianta ser 'potência' se o país é assolado pela fome, miséria, corrupção, sistema de saúde sucateado, baixo nível de escolaridade, desvalorização do profissional, dentre outros. Não precisamos ser potência. Temos o dever de colocar o esporte, desde cedo, na vida das crianças. Temos a obrigação de tirarmos crianças das ruas e, ao invés de correr dos policiais, que seja correndo atrás de uma bola, nadando, lutando, saltando, etc.

Um caso específico acontece na Noruega, o melhor IDH do mundo, e nem por isso se preocupam com a sua posição nas olimpíadas. Isso quer dizer que o esporte lá é desvalorizado? Não! Na Noruega o esporte caminha lado a lado com a educação/saúde. Os professores de educação física possuem seu valor e são reconhecidos. Porém, os recursos e a importância deste profissional são demonstrados mediante políticas públicas. Coisa que aqui está longe de acontecer. 

Nos Estados Unidos acontece algo semelhante: valorização do educador e esporte para as crianças. Não entremos na discussão da sobrecarga e de como é feito. Mas dá certo. O trabalho na escola é proporcional ao nível de educação e, nas Universidades, isso também é levado muito a sério.

As Universidades Estadunidenses usufruem do bom e do melhor pelo investimento, pela verba que não é desviada e pelo brilhante segmento que encara o esporte como ferramenta educacional. Um exemplo aconteceu agora com o técnico da seleção de vôlei feminino. Ele saiu da SELEÇÃO para voltar a treinar uma determinada Universidade. Queda na carreira? Não! Lá ele vai ter os mesmos recursos que lhe eram assegurados na seleção. Mas não coloquemos isso como meta. Foi apenas um exemplo que se encaixou dentro do contexto.

A cada quatro anos essa 'coisa' de medalha fica na cabeça do brasileiro. Mas existem prioridades vitais para a busca de uma melhoria, como um todo, dos nossos defasados sistemas. Vamos cobrar dos nossos governantes. Esse é o primeiro passo. É muito lindo e oportunista quando um atleta ganha uma medalha e é recebido com honrarias pelos chefes de estado. E os demais atletas? E os seus técnicos? E os professores que estão por trás de tudo isso, sem recurso algum? Não merecem serem olhados com carinho? Só sobra a cobrança dos brasileiros por resultados.

Em Londres, o ilustríssimo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, estava andando de metrô. E a cidade que ele governa? Ah, mas em Londres é chique. É muita poeira jogada ao vento.

Não podemos exigir nada dos atletas se não soubermos tudo o que está por trás de uma glória, emoção e sofrimento para conseguir uma medalha. Todos os sacrifícios que os mesmos passam ao ficar longe de família, abdicar de momentos com seus filhos, viagens e as intermináveis horas de treino. Precisamos investir no esporte sim. Mas não querendo elevar a classificação em um quadro de medalhas. Queremos ver os dignos e heroicos professores de educação física tendo o respaldo através das políticas sentenciadas, nós queremos ver atletas sendo estudantes e indo às escolas e, futuramente, universidades. Queremos ver educação, saúde e qualidade de vida. 

O esporte pode proporcionar tudo isso. Não tenham dúvidas. Mas do jeito que está, o máximo que iremos ver e torcer é para que em 2016 o Brasil apareça de forma proveitosa no 'bendito' e repetido QUADRO DE MEDALHAS.  

Massificar o esporte, maximizar a educação/saúde e valorizar os profissionais da área. Mais alguma ideia? Devem existir diversas. Mas fica aqui o meu ponto de vista e carinho para com todos que tentam fazer, nem que seja o mínimo, do Brasil, um País melhor.




Um comentário:

  1. "Não precisamos de uma potência olímpica, mas sim de uma País esportivo". Nooosssa, falou bem!
    O tema muito bem abordado, está voltando a boa forma da escrita novamente, parabééns!

    ResponderExcluir