Após a edição de uma Olimpíada sempre surgem
inúmeros debates de como melhorar ou reajustar nosso sistema esportivo. Porém,
as respostas ficam à mercê dos nossos 'amados' governantes.
Depois do bolsa família - e outras bolsas do nosso
país -, foi anunciado pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro) o bolsa
medalha. Todo e qualquer atleta, de toda e qualquer modalidade, que estiverem
entre os 20 melhores no ranking do seu esporte, vão receber de 5 a 15 mil reais
mensais. Claro, para atletas de ponta é apenas um acréscimo. Mas e os atletas
sem apoio? Nossos governantes acham que contratar professor, nutricionista,
médico, fisiologista, entre outros, sai barato? Qual a valorização que esses
profissionais vão ter recebendo uma merreca? Sim, porque esse dinheiro vai ser
dividido, por exemplo, entre cinco (5) profissionais (ou mais).
Brasil, com seus 190 milhões de habitantes, tinha
tudo para ser uma potência Olímpica. Isso foi frisado pelo até então presidente
do COB, Carlos Arthur Nuzman, há dezesseis (16) anos atrás. Passada a data, ele
pediu mais oito (8) anos e agora já se fala em mais oito (8). Mas em um país
marcado pela corrupção e os desmandos dos governantes, isso é o de menos. Não
precisamos de uma potência olímpica, mas sim de uma País esportivo.
O esporte é uma das ferramentas mais limpas e
benéficas para a melhoria de um país. Isso não resolve tudo, não me entendam
mal, mas já é algo de forte impacto. Ajudaria na melhoria social,
educacional, na saúde, na autossuficiência, dentre outros aspectos que muitos
cidadãos jamais poderiam imaginar. Precisamos de projetos políticos que
atendam, principalmente, as escolas. O profissional de Educação Física precisa
do reconhecimento e da disponibilização de recursos para que possam trabalhar.
Seria uma via de mão dupla. Traria benefícios para os diversos setores
sucateados no país.
Mas o que vemos em todos os jogos olímpicos é o
seguinte: quadro de medalhas. Claro, o brasileiro se acostumou e foi acostumado
a querer estar na frente, ou ao menos buscar um bom lugar nesse famoso e desnecessário
quadro. Já virou uma coisa ideológica. Não nos enganemos. A mídia também tem a sua
parcela de 'culpa'. Sempre que abrem o espaço para falar de olimpíadas, qual o
grand finale de toda reportagem? Pelo contexto, vocês já devem ter percebido.
Não importa o número de medalhas. De nada vai
adiantar o avanço neste quadro se após os jogos todo o trabalho for jogado no
lixo. De nada adianta ser 'potência' se o país é assolado pela fome, miséria,
corrupção, sistema de saúde sucateado, baixo nível de escolaridade, desvalorização do profissional, dentre
outros. Não precisamos ser potência. Temos o dever de colocar o esporte, desde
cedo, na vida das crianças. Temos a obrigação de tirarmos crianças das ruas e, ao
invés de correr dos policiais, que seja correndo atrás de uma bola, nadando,
lutando, saltando, etc.
Um caso específico acontece na Noruega, o melhor
IDH do mundo, e nem por isso se preocupam com a sua posição nas olimpíadas. Isso
quer dizer que o esporte lá é desvalorizado? Não! Na Noruega o esporte caminha
lado a lado com a educação/saúde. Os professores de educação física possuem seu
valor e são reconhecidos. Porém, os recursos e a importância deste profissional
são demonstrados mediante políticas públicas. Coisa que aqui está longe de
acontecer.
Nos Estados Unidos acontece algo semelhante: valorização do educador e esporte para as crianças. Não entremos na discussão
da sobrecarga e de como é feito. Mas dá certo. O trabalho na escola é
proporcional ao nível de educação e, nas Universidades, isso também é levado muito a
sério.
As Universidades Estadunidenses usufruem do bom e
do melhor pelo investimento, pela verba que não é desviada e pelo brilhante
segmento que encara o esporte como ferramenta educacional. Um exemplo aconteceu
agora com o técnico da seleção de vôlei feminino. Ele saiu da SELEÇÃO para
voltar a treinar uma determinada Universidade. Queda na carreira? Não! Lá ele
vai ter os mesmos recursos que lhe eram assegurados na seleção. Mas não
coloquemos isso como meta. Foi apenas um exemplo que se encaixou dentro do
contexto.
A cada quatro anos essa 'coisa' de medalha fica
na cabeça do brasileiro. Mas existem prioridades vitais para a busca de uma
melhoria, como um todo, dos nossos defasados sistemas. Vamos cobrar dos nossos
governantes. Esse é o primeiro passo. É muito lindo e oportunista quando um
atleta ganha uma medalha e é recebido com honrarias pelos chefes de estado. E
os demais atletas? E os seus técnicos? E os professores que estão por trás de
tudo isso, sem recurso algum? Não merecem serem olhados com carinho? Só sobra a cobrança dos brasileiros por resultados.
Em Londres, o ilustríssimo governador do Rio de
Janeiro, Sérgio Cabral, estava andando de metrô. E a cidade que ele governa? Ah, mas em Londres é chique. É muita poeira jogada
ao vento.
Não podemos exigir nada dos atletas se não
soubermos tudo o que está por trás de uma glória, emoção e sofrimento para conseguir
uma medalha. Todos os sacrifícios que os mesmos passam ao ficar longe de
família, abdicar de momentos com seus filhos, viagens e as intermináveis horas de treino.
Precisamos investir no esporte sim. Mas não querendo elevar a classificação em
um quadro de medalhas. Queremos ver os dignos e heroicos professores de
educação física tendo o respaldo através das políticas sentenciadas, nós
queremos ver atletas sendo estudantes e indo às escolas e, futuramente,
universidades. Queremos ver educação, saúde e qualidade de vida.
O esporte pode proporcionar tudo isso. Não tenham
dúvidas. Mas do jeito que está, o máximo que iremos ver e torcer é para que em
2016 o Brasil apareça de forma proveitosa no 'bendito' e repetido QUADRO DE
MEDALHAS.
Massificar o esporte, maximizar a educação/saúde
e valorizar os profissionais da área. Mais alguma ideia? Devem existir
diversas. Mas fica aqui o meu ponto de vista e carinho para com todos que
tentam fazer, nem que seja o mínimo, do Brasil, um País melhor.
"Não precisamos de uma potência olímpica, mas sim de uma País esportivo". Nooosssa, falou bem!
ResponderExcluirO tema muito bem abordado, está voltando a boa forma da escrita novamente, parabééns!