quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Barcelona e Messi: as interfaces do brilhar e decidir


Goooool! Messi faz um, dois, três, quatro tentos no pobre Arsenal. Que atuação, meus amigos! O mundo do futebol pôde, enfim, reverenciar a genialidade máxima do camisa 10 blaugrana. Ele simplesmente brilhou e decidiu para o barça, que avançou de fase na Champions League 2009/2010. Atuação suntuosa.

Sim, esta passagem refere-se ao ano de 2010, em que Lionel Messi realmente fez coisas inimagináveis, sendo praticamente imparável. Quem vivenciou tal época, sabe exatamente do que estou falando: arrancadas, dribles, controle de bola, finalizações perfeitas, dono do jogo. No entanto, para que tudo isso acontecesse, o craque precisou do jogo coletivo e, por consequência, de companheiros gabaritados. Enquanto enfileirava adversários da ponta para dentro, muitos colegas de time o ajudaram taticamente – principalmente no jogo sem bola.

Por que estou abordando o fato ocorrido em 2010? Simples! Para adentrar nas carências do Barcelona versão 2017/2018. Messi notabilizou-se por brilhar e decidir várias partidas, especialmente aquelas em que o time mais precisou. Porém, existem nuances entre brilhar e decidir. Pode-se perfeitamente ter um companheiro que brilhe de maneira ativa, mas no fim, quem decide é "O CARA". Neste caso, o argentino. Exemplo? Para que Villa decidisse nos 5x0 contra o Real Madrid, em 2010, o camisa 10 teve que brilhar intensamente. Enquanto Iniesta e Xavi cintilaram nos 6x2 de 2009, Messi e Henry foram letais e decisivos. Sendo assim - abordando apenas La Pulga -, ele teve ao seu lado jogadores que souberam ser protagonistas em diversos momentos. Voltando ao presente, fica cada vez mais complicado, na atual conjuntura do barça, encontrar parceiros que sejam tão fulgurantes.


Peço perdão ao não citar Suárez. Levando para outro esporte: o Golden State Warriors era o time em que o astro maior tinha nome e sobrenome: Stephen Curry. Contudo, precisando voltar a vencer, trouxeram Kevin Durant. Se o baixinho da camisa 30 brilhou intensamente durante a temporada, foi Kevin quem decidiu as finais. Enquanto isso, Thompson e Green davam conta da marcação, chutes em momentos complicados; Iguodala saiu do banco para ser, por exemplo, MVP em 2015. Mas em 2017, para que o time funcionasse no módulo coletivo, Durant teve que ser “apenas” decisivo, com o alívio em saber que seus companheiros seriam capazes de brilhar. Divisão de responsabilidades.


A saída de Neymar quebrou esse lado menos errático e mais insinuante daquele ataque letal. Se o coletivo já dava sinais de fraqueza desde 2015/2016, pelo lado da esfera imponente dos definidores (leia-se trio MSN), os números individuais foram impressionantes. Com a saída do brasileiro ao PSG, os culés entenderam que o momento é o de se reforçar e, diante do cenário, encontrar variações táticas e o módulo de jogo grupal. Não se pode viver apenas da genialidade de quem está com a 10 às costas durante 60 partidas. 

Corroboro meus pensamentos com o que foi feito no Real Madrid, grande rival do Barcelona. Se até anos atrás os "Blancos" visavam o “glamour”, a identidade foi remodelada em 2013. Não que tenha sido o tipo de projeto premeditado, tampouco analisado nos mínimos detalhes. Cristiano Ronaldo – principal concorrente de Messi – hoje aproveita-se da maturidade, da tranquilidade ao olhar para o plantel e saber que o Madrid lhe dará garantias de conquistas. Subsequentemente, estará apto para saltar aos prêmios individuais. O gajo nem sempre brilha, pois existem vários jogadores que possuem alcunha para isso. No entanto, quando chegam as fases mais agudas das principais competições, é ele quem decide. A trinca formada por Casemiro, Modric e Kroos dá o suporte necessário para que os três da frente possam desfrutar do jogo. Isso era tão Barcelona, né?  


Lionel Messi é surreal, produz o inimaginável, ousa nos ludibriar com jogadas que sequer pensávamos. Contudo, em um time sem identidade, que há dois anos não passa das quartas de finais da Champions, fica complicado pensar em conquistas. No atual cenário, tendo apenas Suárez como um cara que pode realmente desequilibrar, quais as reais perspectivas para o barça de Ernesto Valverde? É preciso contratar (Coutinho, Dembélé, por exemplo) e fortalecer o conjunto. Ah, não posso esquecer que é necessário reforçar o setor do meio de campo. De nada adianta comerciar apenas atacantes, quando a construção de jogo encontra-se num deserto de ideias.


Um dos grandes diferenciais de equipes campeãs encontra-se no banco de reservas, nas reposições. O próprio Barcelona de 2009, com vários craques, precisou de suporte para que o desgaste não tomasse conta na reta final. Citarei alguns: Rafa Márquez, Sylvinho, Keita, Hleb, Gudjohnsen, Bojan. À época, jogadores que fizeram profunda diferença, que não deixaram o ritmo da equipe cair - sobretudo ao falarmos de Xavi, Iniesta e Messi. O mesmo vale para o time da temporada 2010/2011, que dispôs de peças diferenciadas dentre os reservas. Sendo assim, ao traçar um paralelo com o que vem ocorrendo de 2015 para cá, nota-se uma mudança significativa no ritmo e na qualidade de jogo da equipe quando entram jogadores que nem mesmo a própria torcida confia.


Todo astro, quando bem municiado, tende a render ainda mais nas fases mais intensas. Isso vale para qualquer esporte, mas, ao abordar apenas o barça, fica a dúvida sobre como Messi irá "carregar", por ora, uma equipe sem identidade, padrão e jogadores que desequilibrem. Para agravar a situação, Suárez ficará de molho por algumas semanas, e o que antes era um trio, tornou-se dupla, mas que agora terá de esperar um monólogo. Enquanto rivais se fortalecem cada vez mais, os blaugranas estão céticos quanto ao time. Claro, ainda há possibilidade de contratações. Mas enquanto isso não ocorre, as esperanças, mais do que nunca, estarão depositadas na messidependência. E o risco está justamente nesse aspecto, já que "estourá-lo" tão rapidamente poderá refletir em sérios impactos na segunda etapa da temporada.

Por que a insistência na formação de um elenco? Para que o clube projete o futuro. Creio que a cúpula diretiva teve essa chance no pós-triplete de 2015, mas muitas coisas foram mascaradas com as conquistas, sobretudo a necessidade de buscar alguém que pudesse exercer a função de Xavi Hernández. Com Iniesta e as sucessivas lesões, e a instabilidade de Rakitic, apostar em André Gomes e Sergi Roberto me parece arriscadíssimo. Necessita-se, sim, de um World Class que impulsione o jogo do time. Os meio-campistas precisam ser diferenciados, pois nos momentos de aperto e boa marcação aos atacantes, serão os homens da zona central que terão a oportunidade de decidir. É impossível que Messi, com seus 30 anos e precisando de repouso em alguns jogos, consiga desequilibrar domingo, quarta e domingo. O físico pagará a conta.

As interfaces entre brilhar e decidir podem levar o astro do time ao esgotamento em fevereiro/março, meses em que a temporada começa a ser decidida. Sem a fartura de jogadores que consigam dividir as nuances do desequilíbrio, como acreditar no barça superando bons sistemas defensivos, se o coletivo deixou de existir? Solucionar tal problema ajudaria, e muito, o jogo do argentino. Indo além, daria aos culés poder de fogo para utilizar peças de reposição (confiáveis) durante a longa temporada. Que fase!!!

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