sexta-feira, 26 de outubro de 2012

"O Maraca é nosso?"

PRIVATIZAÇÃO DO MARACANÃ

No dia 22 de outubro, segunda-feira, o governo do Rio de Janeiro anunciou que o estádio Maracanã e seu entorno será administrado pela iniciativa privada.

O valor gasto, até agora, nas obras internas do estádio, são de aproximadamente R$1 bilhão de reais: com a privatização, o governo pretende receber da empresa R$231 milhões - que representa apenas 18% do valor gasto nas obras - o pagamento será efetuado em 33 anos e em parcelas anuais de R$7 milhões que seriam destinados ao investimento público já feito no local. De 35 anos de concessão, a empresa não pagará dois anos. No acordo, há também uma série de responsabilidades: a modernização do Maracanãzinho e a construção e operação do Museu do Futebol, a demolição do Estádio de Atletismo Célio de Barros e do Parque Aquático Júlio Delamare, hoje localizados dentro do complexo do Maracanã. No lugar dos dois, serão construídos dois estacionamentos, com cerca de duas mil vagas, sendo 1.500 delas cobertas. A previsão é de que todas as obras do complexo do Maracanã fiquem prontas em 2015. O concessionário deverá desembolsar R$ 469 milhões para realizar as intervenções.

É verdade que a privatização pode ser benéfica para as áreas próximas ao estádio, mas como cidadão e amante do futebol, lamento profundamente: o estádio (leia-se COPA) não estará ao alcance de quem bancou toda a reforma e é historicamente a principal marca do Maracanã, que já chegou a reunir 150.000 pessoas! A “elitização” será inevitável: o preços dos ingressos deve subir mais ainda. O torcedor que traz o calor para o estádio, será cada vez mais afastado da arquibancada, que não existirá devido a inevitável “modernização”. Nada contra a modernização, mas tudo contra a desconsideração ou omissão com a nossa cultura. 

Vou dar um exemplo do que deveria ser feito: a torcida do time alemão Borussia Dortmund, é famosa mundialmente por lotar o estádio, cantar e pular sem parar durante os jogos do time, seja em casa ou fora. O estádio Signal Iduna Park tem uma parte especialmente reservada para estes fanáticos, que lá pulam e gritam, e fazem o estádio ter uma atmosfera incrível admirada por torcedores do mundo inteiro. Esta torcida, ficou mais famosa após o jogo Manchester City x Borussia Dortmund, na Inglaterra, onde 3 mil alemães fizeram mais barulho que 60 mil ingleses. Ingleses que são elogiados por estarem sempre lotando os estádios, porém criticados por simplesmente serem um gelo. Não gritam, não apoiam, lá estádio não tem voz. Nós não. Nós temos. Nós gritamos, apoiamos, xingamos o juiz, e é algo normal! Mas querem acabar com isso. Serão apenas brasileiros de classe alta (pouquíssimos aliás) imitando ingleses sentadinhos em suas cadeiras assistindo ao jogo. 

A empresa que administrará o estádio deve ser a IMX, comandada pelo amigo íntimo de Cabral, Eike Batista, este que já tem planos para a “modernização” do Maraca. O agora simples espaço, sediará shows internacionais, deixando o futebol de lado. Ou não. A empresa negociará diretamente com os clubes, e agora é ela quem dá as cartas de acordo com seus interesses. Como disse o jornalista Lúcio de Castro, no programa Bate-Bola na ESPN, acabou! Toda a essência do templo sagrado irá por água abaixo, o palco de várias e históricas decisões e de grandes jogadores será transformado em um simples estádio com infraestrutura pronta pra receber shows, fazendo com que a empresa que o administrará lucre mais ainda.


Texto produzido por: Raul Chiliani - São Paulo (Capital) 

3 comentários:

  1. Concordo em grande parte, porém, o texto induz a possibilidades extremas. É oito ou oitenta. Sabemos que não é bem assim.
    O contrato firmado com o governo possui clausulas que berram por criticas. O investimento nacional, leia-se do povo, sera imensamente maior do que arrecadado pela união. Todavia, obras de infraestrutura serão concretizadas, pois bem, a união não deveria ter porção disto? Durante os mesmos 35 anos?

    Confesso incredulidade perante possibilidade do governo/clubes conseguirem manter o Maracanã.
    Perante isto, pendo a privatização do Maracanã. Se clubes não conseguem se manter, porque manteriam um estadio em ordens?

    A modernização do Maracanã vai prejudicar a massa que leta nossos palcos do futebol? Sim, durante a Copa. Atualmente os preços dos ingressos de série A já excluem certa parcela da sociedade. Quarenta reais por arquibancada de cimento é uma afronta perante o órgão máximo do futebol, o torcedor. Sem torcida não há futebol, sequer clubes, quem mantém a roda girando são torcedores. A "elitização" do futebol deveria andar atrelada a economia. Casada com inflamação, aumento real do salario, classificação das classes sociais assim tornando possivel presença de torcedores menos afortunados aos estádios.

    Enfim, a modernização do futebol é necessária. Se quem mantém o futebol são os torcedores, porque menospreza-los em estádios em condições "sub-humanas" de apreciar um belo espetáculo? Porque não nos basearmos nos EUA e suas arenas, estádios e ginásios? Porém, como cita o texto. Não esquecer a essência do futebol, nossa cultura, nossas origens, o publico alvo.

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    1. O governo não terá renda com as obras concretizadas no entorno do estádio, porém não terá a obrigação de se preocupar em fazê-las repassando esta responsabilidade à iniciativa privada. Os clubes foram proibidos de tentar qualquer tipo de negociação para ter o estádio, poderão apenas negociar diretamente com a empresa, que não poderá privilegiar qualquer clube que tentar algo.
      Há normas pré-estabelecidas pelo governo, mas não serão destinadas diretamente ao povo brasileiro, e inclusive irá atrapalhá-lo tirando áreas como a escola Municipal Friedenreich que é modelo e considerada uma das melhores do país.
      Entendo sua desconfiança no governo em administrar com competência o estádio, mas não adianta dar na mão da iniciativa privada e deixar de lado a questão financeira (o governo poderia ter um lucro imenso com o estádio e este lucro poderia ser utilizado em várias outras áreas como educação) e como você mesmo citou, a modernização deve ocorrer, mas de forma que valorize a massa que faz o estádio vibrar e não apenas o privilegiado.

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    2. E desculpe a demora para responder, li na hora que você comentou mas acabei esquecendo de responder. Valeu pelo comentário, muito bom por sinal, Edu!

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