sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A Premier League enriquece e a Seleção Inglesa padece



A Premier League enriquece e a Seleção Inglesa padece


Em pleno século XXI, ano de 2012, o amante do futebol deleita-se mediante a gama de opções para assistirem ao futebol internacional. Mas nem sempre foi assim. Tenho 27 anos e o pessoal da minha geração entende essa questão.

Diante do cenário imensurável de opções, existe sempre aquele campeonato que te agrada mais. Seja por identificação com um país, clube, jogador, história, etc. Até a década de 90 o Campeonato Italiano era a “terra prometida” para jogadores e espectadores. Os maiores craques encontravam-se na velha bota. Porém, o cenário foi alterado.

A Premier League (Campeonato Inglês) alavancou as suas estruturas e passou por uma verdadeira transformação em 1991/1992, culminando com ideias rentáveis e modernas para o futebol local. O montante de dinheiro investido proporcionou o crescimento do futebol inglês. Os maiores craques já não mais se encontram na Itália. A “terra prometida” da nova geração é a Premier League. Claro que existem outros campeonatos que também atraem a atenção. No entanto, é difícil dissipar a PL do futebol atual.

Com muito dinheiro, investidores pesados, empresas importantes e os melhores jogadores atuando na Inglaterra, ficou impossível não ser fisgado pelo futebol rápido e dinâmico que nos encanta rodada após rodada na PL. A ideia, ainda deturpada, sobre o estilo inglês de jogar (lançamentos e bola aérea) já não cabe mais no contexto atual. Nos alfarrábios? Quem sabe! Porém, existe um refluxo dentro desse investimento pesado que foi feito. Existe algo inversamente proporcional a importação de grandes craques. Esse “quê” de fragmentação é a Seleção Inglesa.

Com a contratação dos grandes craques por parte dos principais clubes, a identidade inglesa foi perdendo espaço dia após dia. Será que os dogmas dessa ilha foram sendo extirpados? Não é demagogia alguma falar que os clubes ingleses estão cada vez menos...ingleses. E quem sofre com isso? A seleção.

Você saberia dizer qual a última grande campanha do English Team em uma copa do mundo? Puxe pela sua memória. Lembrou? Não? Vou lhes dizer: foi o 4º lugar na copa de 1990 realizada na Itália. Perceberam o contraste? A liga local cresceu, tomou corpo, possui os melhores jogadores, altos salários, mas a seleção caminha pela estrada contrária. Quando deveria ser uma via de mão dupla. Mas não é o que acontece.

Cena comum da torcida Inglesa

Durante as copas de 2002, 2006 e 2010 o comandante da seleção não era inglês. Se for pensar na magnitude disso, é estranho. No mínimo, controverso. Será que não tinha sequer um cidadão inglês (britânico) capaz de comandar a seleção? O último foi Glenn Hoddle, na copa de 1998, quando a Inglaterra sucumbiu diante da Argentina nas oitavas de final.

Glenn Hoddle - Inglês (Copa de 1998)

  
Erikson - Sueco (copas de 2002  e 2006)
 

Fábio Capello - Italiano (copa de 2010)

Não há como mascarar os problemas do English Team. É notório. Se nos principais clubes não se tem um elevado número de ingleses entre os titulares, como girar a manivela e transformar a ação em reação. Ou seja: como firmar jogadores e ter uma seleção forte? Depender das gerações passadas, de craques já em idade avançada não é uma das soluções. Por onde anda a base? Por onde anda o investimento e oportunidade para o jogador local? Isso destoa do que poderia ser feito. A Liga vai muito bem, obrigado. Mas a seleção virou o “bagaço” da laranja. Sem alma, sem vida, sem forças para lutar e transmitir medo ao oponente.

No cenário do futebol atual nós temos a Espanha ganhando tudo. Seja no time principal ou nas categorias de base. Modelo a ser copiado? Pode ser. Desde que exista planejamento para tal. A Alemanha não vem vencendo, porém convence com seu futebol vistoso. O que há em comum entre esses dois países? Pesado investimento em jogadores locais e, principalmente, na base. Que é a mola propulsora da rotatividade. Sai uma geração? Ok! Vamos formar outra. Claro, com a mescla necessária. A identidade não retrata em erro crasso.

Talvez a Federação Inglesa tenha percebido tamanho erro e após a controversa saída de Fábio Capello, chamou o Inglês Roy Hodgson para comandar a equipe na Eurocopa de 2012. O time parou diante da Itália nas quartas de final, nos pênaltis. Um avanço? Só o tempo pode nos dizer. Entretanto, a aposta em um técnico local foi um primeiro passo em todo esse retrocesso.

Roy Hodgson (atual técnico - Inglês)
 

Outro exercício: vocês lembram o último goleiro que obteve “sucesso” e sequência jogando na seleção? Claro, antes do Joe Hart. Foi David Seman. Sim, ele mesmo. Que jogou muito tempo no Arsenal. Atuou nas copas de 1998 e 2002. Também jogou a Euro de 1996 e 2000. O gol, por muito tempo, foi a calamidade pelos lados da ilha que fica a leste do Canal da Mancha. Parece que o Hart já não mais passa esse medo. Aliás, é o único goleiro inglês titular que atua nos chamados grandes times.

Me peguei pensando e escalando os principais times e contrapondo o número de ingleses como titulares. Fiz melhor. Essa foi semana de Champions League. Peguei as escalações de equipes da Alemanha, Espanha, Itália e Inglaterra, analisando quantos jogadores locais foram titulares e quantos entraram no decorrer do jogo. Que fique claro: jogos dos últimos dias 02 e 03/10. Vamos lá:

ALEMANHA:

Schalke 04: Lars Unnerstall, Höwedes, Holtby, Höger e Draxler. Titulares: 5

B. Dortmund: Weindenfeller, Hummels, Schmelzer, Bender, Gundogan, Gotze e Reus. Entraram: Kehl e Grosskreutz. Titulares: 7 / Total: 9

Bayern de Munique: Neuer, Boateng, Lahm, Badstuber, Kross e Muller. Entrou: Schweinsteiger. Titulares: 6 / Total: 7

ESPANHA:

Real Madrid: Casillas, S. Ramos, Arbeloa, Xabi Alonso e Callejon. Total: 5

Barcelona: Valdés, Puyol, Alba, Busquets, Xavi, Fàbregas e Pedro. Entraram: Iniesta e David Villa. Titulares: 7 / Total: 9

Valência: Guaita, Barragán, Víctor Ruiz, Carlos Rodríguez, Soldado. Entrou: Parejo. Titulares: 5 / Total: 6

ITÁLIA:

Milan: Abbiati, Abate, Bonera, Antonini, Montolivo e El Shaarawy. Entraram: Nocerino e Pazzini. Titulares: 6 / Total: 8

Juventus: Buffon, Chiellini, Barzagli, Bonucci, Marchisio, Pirlo e Matri. Entraram: Giovinco e Quagliarella. Titulares: 7 / Total: 9

INGLATERRA:

Manchester City: Hart. Entrou: Jack Rodwell. Titulares: 1 / Total: 2

Manchester United: Ferdinand, Evans (Irlanda do Norte – britânico), Cleverley, Ronney. Entraram: Wooton e Welbeck. Titulares: 4 / Total: 6

Chelsea: A. Cole, G. Cahill e Lampard. Titulares: 3

Arsenal: Carl Jenkinson e Kieran Gibbs. Entraram: Ramsey (Britânico) e Walcott. Titulares: 2 / Total: 4


Conseguiram entender o contraste? Coloquei a Itália porque mesmo atuando com jogadores da velha guarda, os mesmos são imprescindíveis em suas equipes. Entenderam um dos fatores da crescente de Espanha e Alemanha nos últimos anos?

Alguns clubes ingleses estão começando a soltar e lançar jogadores da base. Porém, é preciso ter paciência e fincar esses atletas em seus elencos. Não adianta fazer isso de maneira efêmera. Precisa ser um ato contínuo. Quem sabe a gente comece a ver a Inglaterra galgando voos mais altos. A geração não é provida de grandes revelações e de bons técnicos. Mas é preciso, no atual momento, achar água no deserto.

Investimento na Liga sim. Padecer a prata da casa, o atleta local e perder a identidade? Não!

Um tema extenso onde cabem várias opiniões.

Abraço!

Será essa a imagem que veremos por muito tempo?

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