A Premier
League enriquece e a Seleção Inglesa padece
Em pleno
século XXI, ano de 2012, o amante do futebol deleita-se mediante a gama de
opções para assistirem ao futebol internacional. Mas nem sempre foi assim.
Tenho 27 anos e o pessoal da minha geração entende essa questão.
Diante do
cenário imensurável de opções, existe sempre aquele campeonato que te agrada
mais. Seja por identificação com um país, clube, jogador, história, etc. Até a década
de 90 o Campeonato Italiano era a “terra prometida” para jogadores e
espectadores. Os maiores craques encontravam-se na velha bota. Porém, o cenário
foi alterado.
A Premier League
(Campeonato Inglês) alavancou as suas estruturas e passou por uma verdadeira
transformação em 1991/1992, culminando com ideias rentáveis e modernas para o
futebol local. O montante de dinheiro investido proporcionou o crescimento do
futebol inglês. Os maiores craques já não mais se encontram na Itália. A “terra
prometida” da nova geração é a Premier League. Claro que existem outros
campeonatos que também atraem a atenção. No entanto, é difícil dissipar a PL do
futebol atual.
Com muito
dinheiro, investidores pesados, empresas importantes e os melhores jogadores atuando
na Inglaterra, ficou impossível não ser fisgado pelo futebol rápido e dinâmico
que nos encanta rodada após rodada na PL. A ideia, ainda deturpada, sobre o
estilo inglês de jogar (lançamentos e bola aérea) já não cabe mais no contexto
atual. Nos alfarrábios? Quem sabe! Porém, existe um refluxo dentro desse
investimento pesado que foi feito. Existe algo inversamente proporcional a
importação de grandes craques. Esse “quê” de fragmentação é a Seleção Inglesa.
Com a
contratação dos grandes craques por parte dos principais clubes, a identidade
inglesa foi perdendo espaço dia após dia. Será que os dogmas dessa ilha foram
sendo extirpados? Não é demagogia alguma falar que os clubes ingleses estão
cada vez menos...ingleses. E quem sofre com isso? A seleção.
Você saberia
dizer qual a última grande campanha do English Team em uma copa do mundo? Puxe
pela sua memória. Lembrou? Não? Vou lhes dizer: foi o 4º lugar na copa de 1990
realizada na Itália. Perceberam o contraste? A liga local cresceu, tomou corpo,
possui os melhores jogadores, altos salários, mas a seleção caminha pela
estrada contrária. Quando deveria ser uma via de mão dupla. Mas não é o que
acontece.
Cena comum da torcida Inglesa
Durante as
copas de 2002, 2006 e 2010 o comandante da seleção não era inglês. Se for
pensar na magnitude disso, é estranho. No mínimo, controverso. Será que não
tinha sequer um cidadão inglês (britânico) capaz de comandar a seleção? O
último foi Glenn Hoddle, na copa de 1998, quando a Inglaterra sucumbiu diante da
Argentina nas oitavas de final.
Glenn Hoddle - Inglês (Copa de 1998)
Erikson - Sueco (copas de 2002 e 2006)
Fábio Capello - Italiano (copa de 2010)
Glenn Hoddle - Inglês (Copa de 1998)
Erikson - Sueco (copas de 2002 e 2006)
Fábio Capello - Italiano (copa de 2010)
Não há como
mascarar os problemas do English Team. É notório. Se nos principais clubes não
se tem um elevado número de ingleses entre os titulares, como girar a manivela
e transformar a ação em reação. Ou seja: como firmar jogadores e ter uma
seleção forte? Depender das gerações passadas, de craques já em idade avançada
não é uma das soluções. Por onde anda a base? Por onde anda o investimento e
oportunidade para o jogador local? Isso destoa do que poderia ser feito. A Liga
vai muito bem, obrigado. Mas a seleção virou o “bagaço” da laranja. Sem alma,
sem vida, sem forças para lutar e transmitir medo ao oponente.
No cenário do
futebol atual nós temos a Espanha ganhando tudo. Seja no time principal ou nas
categorias de base. Modelo a ser copiado? Pode ser. Desde que exista
planejamento para tal. A Alemanha não vem vencendo, porém convence com seu futebol
vistoso. O que há em comum entre esses dois países? Pesado investimento em
jogadores locais e, principalmente, na base. Que é a mola propulsora da
rotatividade. Sai uma geração? Ok! Vamos formar outra. Claro, com a mescla
necessária. A identidade não retrata em erro crasso.
Talvez a
Federação Inglesa tenha percebido tamanho erro e após a controversa saída de
Fábio Capello, chamou o Inglês Roy Hodgson para comandar a equipe na Eurocopa
de 2012. O time parou diante da Itália nas quartas de final, nos pênaltis. Um
avanço? Só o tempo pode nos dizer. Entretanto, a aposta em um técnico local foi
um primeiro passo em todo esse retrocesso.
Roy Hodgson (atual técnico - Inglês)
Roy Hodgson (atual técnico - Inglês)
Outro
exercício: vocês lembram o último goleiro que obteve “sucesso” e sequência
jogando na seleção? Claro, antes do Joe Hart. Foi David Seman. Sim, ele mesmo.
Que jogou muito tempo no Arsenal. Atuou nas copas de 1998 e 2002. Também jogou
a Euro de 1996 e 2000. O gol, por muito tempo, foi a calamidade pelos lados da
ilha que fica a leste do Canal da Mancha. Parece que o Hart já não mais passa
esse medo. Aliás, é o único goleiro inglês titular que atua nos chamados
grandes times.
Me peguei
pensando e escalando os principais times e contrapondo o número de ingleses como
titulares. Fiz melhor. Essa foi semana de Champions League. Peguei as escalações
de equipes da Alemanha, Espanha, Itália e Inglaterra, analisando quantos
jogadores locais foram titulares e quantos entraram no decorrer do jogo. Que
fique claro: jogos dos últimos dias 02 e 03/10. Vamos lá:
ALEMANHA:
Schalke
04: Lars
Unnerstall, Höwedes, Holtby, Höger e Draxler. Titulares: 5
B.
Dortmund: Weindenfeller, Hummels, Schmelzer, Bender, Gundogan, Gotze e Reus.
Entraram: Kehl e Grosskreutz. Titulares: 7 / Total: 9
Bayern de
Munique: Neuer, Boateng, Lahm, Badstuber, Kross e Muller. Entrou:
Schweinsteiger. Titulares: 6 / Total: 7
ESPANHA:
Real Madrid: Casillas, S. Ramos, Arbeloa, Xabi Alonso e
Callejon. Total: 5
Barcelona: Valdés, Puyol, Alba, Busquets, Xavi,
Fàbregas e Pedro. Entraram: Iniesta e David Villa. Titulares: 7 / Total: 9
Valência: Guaita, Barragán, Víctor Ruiz, Carlos
Rodríguez, Soldado. Entrou: Parejo. Titulares: 5 / Total: 6
ITÁLIA:
Milan: Abbiati, Abate, Bonera, Antonini, Montolivo
e El Shaarawy. Entraram: Nocerino e Pazzini. Titulares: 6 / Total: 8
Juventus: Buffon, Chiellini, Barzagli, Bonucci,
Marchisio, Pirlo e Matri. Entraram: Giovinco e Quagliarella. Titulares: 7 /
Total: 9
INGLATERRA:
Manchester
City: Hart. Entrou: Jack Rodwell. Titulares: 1 / Total: 2
Manchester
United: Ferdinand, Evans (Irlanda do Norte – britânico), Cleverley, Ronney.
Entraram: Wooton e Welbeck. Titulares: 4 / Total: 6
Chelsea:
A. Cole, G. Cahill e Lampard. Titulares: 3
Arsenal: Carl
Jenkinson e Kieran Gibbs. Entraram: Ramsey (Britânico) e Walcott. Titulares: 2 / Total: 4
Conseguiram
entender o contraste? Coloquei a Itália porque mesmo atuando com jogadores da
velha guarda, os mesmos são imprescindíveis em suas equipes. Entenderam um dos
fatores da crescente de Espanha e Alemanha nos últimos anos?
Alguns clubes ingleses estão começando a
soltar e lançar jogadores da base. Porém, é preciso ter paciência e fincar
esses atletas em seus elencos. Não adianta fazer isso de maneira efêmera.
Precisa ser um ato contínuo. Quem sabe a gente comece a ver a Inglaterra galgando
voos mais altos. A geração não é provida de grandes revelações e de bons técnicos. Mas é preciso, no atual momento, achar água no deserto.
Investimento
na Liga sim. Padecer a prata da casa, o atleta local e perder a identidade?
Não!
Um tema
extenso onde cabem várias opiniões.
Abraço!
Será essa a imagem que veremos por muito tempo?
Nenhum comentário:
Postar um comentário