Il
conduttore
Era uma
vez, em Brescia (Itália), um garoto que mudaria o conceito do que é,
deliberadamente, um autêntico maestro no futebol.
Tão cedo, já
impressionava com o seu estilo clássico de bater na bola. Altruísta desde sempre, jamais passou a imagem/soberba de personagem principal. Porém, nunca antes pude perceber
um personagem secundário com a alcunha de um genuíno protagonista.
Seu jeito de
controlar a bola nos dá a sincera impressão de que tudo isso é fácil. Nos faz
concatenar uma linha cronológica de ações e movimentos que são feitos para
obter o êxito em passes, faltas, no jeito singular que lhe é característico.
O fundamento
do passe, tão “assassinado” por um montante de grosseiros, é exercido de
maneira sublime por esse Italiano. É algo tão raro, que só buscando nos alfarrábios
poderemos ter a leve sensação de que isso é familiar. É como vê-lo jogar e
lembrar, saudosamente, do Gérson (o canhotinha de ouro) e seus belos
lançamentos.
Toda vez que
o camisa 21 pega na bola, alinha o seu corpo para o próximo ato, e encontra um
companheiro livre, a sensação é a de que algo primoroso vai acontecer. Não
importa a distância, sabemos que algo elogiável está por vir. É como se ele
tivesse uma máquina na cabeça e fizesse a medição certeira entre espaço, tempo
e velocidade. Eu diria que ele é um físico da bola.
A presunção
passa longe de seu futebol. A simplicidade, efêmera para outros, torna-se a
verdadeira amiga dele. A bola, cansada de ser maltratada, só pede por carinho e
senso de direção que a faça encontrar o caminho das redes. Esse sujeito conhece
tão bem essa sensação que atende ao pedido da sua parceira. Avidamente, sento
no sofá e só desfruto o requintado “exército” de jogadas que esse craque nos
oferece.
Em Milão, o
seu jeito elegante de bater na bola lhe rendeu belos gols, assistências geniais e o reconhecimento por não ser apenas mais um grosso que
erra um passe de dois (2) metros. O seu marcador se desconcentra por alguns
instantes, lhe dá curto espaço e, já era. Nelson Rodrigues diria que o
sobrenatural de Almeida fez aquilo.
A figura do
maestro surgiu na época do Romatismo (século XIX). Nada mais justo para os
amantes do futebol romântico, praticado por exceções, do que chamar ao craque
em questão de regente.
- O zagueiro
faz a falta. O goleiro fica em estado temerário.
- A bola é
cuidadosamente bem tratada. O olhar é tranquilo, sereno.
- O destino
da bola? As redes.
- A sensação
do goleiro? A de querer jogar ardentemente no time do craque.
- Batida seca
e com efeito. Parece que nem houve esforço. Soou como algo simples.
A bola quando
chega a seus pés, encontra o alívio e se depara com a sensação de conforto. O
jogador, como bom regente que é, não distribui passes. Ele, de forma genial,
encontra espaços e encurta distâncias para dar o momento de glória aos seus
companheiros. O seu momento de esplendor? Passa rapidamente e nos faz querer
mais. Entretanto, o craque só precisa de alguns instantes para ser lembrado por
todo o sempre.
Infelizmente,
Milão abriu mão do seu regente e ficou com os grosseiros que assolam o futebol.
Quem se deu bem? A cidade de Turim. Sua nova casa pode ver as maestrias sendo
feitas de maneira tão simples, que os gols acabam saindo ao natural. Os goleiros
continuam a se desesperar e ele só a comemorar.
Inteligência,
classe, visão de jogo e estilo próprio de fazer o torcedor dar boas gargalhadas
com os seus passes meticulosos que deixam os zagueiros mais perdidos que cego
em tiroteio. Enquanto existir Andrea Pirlo, as mazelas do futebol podem ficar em
segundo plano. Enquanto existir Andrea Pirlo, as reminiscências vão ficar para
sempre vivas em nossa memória.
Andrea Pirlo
é uma exceção nesse mundo (futebol) de iguais.
Um maestro. O
verdadeiro conduttore.
Grazie,
Pirlo!
(por: Raniery
Medeiros)
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