quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Bate-bola com o Julian Sakaniwa



O bate-bola de hoje é com o Julian. Fanático torcedor do Barcelona (ESP) e estudioso sobre a história do clube, o entrevistado não escondeu sua admiração por Xavi Hernández, relatou "causos" do Franquismo e apontou favoritos para o Mundial de 2014.

P: Quando e como surgiu essa paixão pelo Barcelona?

R: Primeiramente eu gostaria de agradecer esta oportunidade de participar do ‘Bate-Bola’. É uma honra!
Então, os meus primeiros sentimentos pelo Barça começaram meses antes da Copa do Mundo da França, em 1998, quando o Ronaldo era a promessa da Seleção Brasileira – como o Neymar é hoje –,  e só se falava nele. Eu ganhei uma tabela dos jogos, aquelas de papel, e cada país tinha a sua bandeirinha. Com meus 7 anos, me apaixonei pelas bandeiras, pedi para o meu pai comprar um pacote de papel sulfite e comecei a desenhar todas as que eu mais gostava – sempre fui apaixonado pela bandeira da Dinamarca, diga-se de passagem – até que me dei conta de que estava gostando muito daquilo, e por curiosidade eu assisti a alguns jogos meio que sem entender nada, e foi aí que comecei a gostar de futebol.

Na mesma época, ganhei um boneco do Ronaldo de uns 20 centímetros de altura, foi o maior que eu já tinha ganhado até então, e foi assim que comecei a admirar o "fenômeno", pois eu brincava com ele o dia inteiro. Na época, com meu Super Nintendo, pedi um jogo de futebol para o meu pai, e ele me deu o ‘Ronaldinho Campeonato Brasileiro 97’. Quando cacei o time em que ele jogava, apareceu o Barcelona. De tanto jogar com o time, acabei “conhecendo” outros jogadores como Guardiola, Figo, Vitor Baía, Luis Enrique, Abelardo, entre outros, mas o detalhe que me fez apegar ao Barça, além do Ronaldo, foi o uniforme - um azul com borrão vermelho. Me identifiquei com as cores e já comecei a gostar do clube sem ao menos assistir uma única partida. Esse “namoro” se manteve frio até a temporada 2004-05. Antes disso, acompanhei apenas os resultados, mas a partir dessa temporada que começou a ser transmitida na Bandeirantes, e com o Ronaldinho Gaúcho jogando muito, comecei a assistir o maior número de jogos possíveis, e até hoje acompanho sempre que posso ou, quando não posso, tento dar um jeito. Mas a única certeza é a de que de 1998 para cá a minha paixão pelo Barça só aumentou.

P: O número de torcedores dos clubes europeus aumentou assustadoramente no Brasil. Qual o principal motivo para este fato?

R: Acredito que o motivo que causou isso foi a facilidade do acesso ao futebol europeu. Hoje qualquer pessoa pode assistir uma partida de clubes europeus sem muito custo, e isso contribuiu muito para que elas conhecessem um futebol diferente e mais atraente do que vemos por aqui. Outro fator: já não mais existe aquela 'discriminação' que perdeu força de alguns anos para cá - uma tradição estúpida que "proibia" alguém de torcer para um clube europeu (ou até de outro Estado). Por causa disso, tive que esconder o meu amor pelo Barça por longos anos, e fingir amor a outros clubes daqui de São Paulo para não sofrer essa 'discriminação'. Pelo menos por aqui onde eu vivi toda a minha vida, essa estupidez causou fortes danos morais. O Brasil vivia em uma Ditadura do Futebol. Por conta disso, até os meus 14 anos tentei torcer por Palmeiras, Corinthians ou São Paulo, mas nenhum deles conseguiu despertar um sentimento mais sério em mim, muito pelo contrário, por ter trocado de time por duas vezes, também me intitulavam como um torcedor que "virava a casaca" - outra coisa que era totalmente inadmissível na Ditadura do Futebol. Mas isso tudo de "virar a casaca" contribuiu muito para criar a coragem necessária e me permitiu declarar o amor ao clube que eu realmente admirava. O fato de eu ter trocado de time significa que eu sempre busquei ser feliz com o futebol.

Mas existia um lugar onde tal represália jamais adentrou: minha casa. Meu pai, palmeirense, odiava o Corinthians, mas nunca me forçou a ser palmeirense como ele, muito pelo contrário, sempre me incentivou a gostar de futebol e a torcer para quem eu quisesse. Sem dúvidas, ele (pai) foi o maior exemplo de que a felicidade está em nossas escolhas e, para que possamos amar em paz, necessitamos de liberdade para escolher o que nos agrada. Quem deixa os outros escolherem por si, não sabe o quanto é prazeroso ser livre ao optar por suas próprias escolhas.

P: O termo “modinha”... está na moda. Quais “armas” o Julian utiliza para não ser taxado através deste rótulo?

R: Ignorar. Eu sei o que sou e ninguém conseguirá me convencer a aceitar um rótulo que não bate com a minha personalidade. Mesmo assim, confesso não lembrar de alguém me chamar particularmente de “modinha”. Quando me chamam, é por pura generalização. Por exemplo: “Todos os culés brasileiros são modinhas”. Só assim mesmo.

P: O Franquismo, regime ditatorial ocorrido na Espanha, mascarou (teoricamente) várias conquistas do Real Madrid. Relate quais foram os maiores fatores prejudiciais ao Barcelona.

R: São vários. Mas os mais famosos e mais prejudiciais foram: a morte do presidente Suñol, os 11-1 (escândalo de Chamartín), e a contratação de Di Stéfano. Esse último, o divisor da história do Real Madrid.

P: Como historiador de tudo o que envolve o clube, em que grau de importância você colocaria Johan Cruyff e Pep Guardiola na história dos blaugranas? Aborde o principal legado dos dois.

R: Eu colocaria ambos como os principais nomes do sucesso atual do Barcelona. O Cruyff, como jogador, trouxe para o Barça aquela filosofia da “Laranja Mecânica”, e como treinador difundiu o sistema de jogo que deu muito certo. O sucesso foi tão grande que formou um “Dream Team”, conquistou a primeira Copa Europeia do clube e construiu um dos ciclos mais gloriosos do Barça em todos os quase 100 anos de história (na época). 

Cruyff treinou o Guardiola, outro gênio que bebeu daquela fonte, porém, com jogadores criados e educados naquele estilo de jogo implantado na década de 1990. Ou seja, Guardiola pegou um elenco perfeito para colocar em prática tudo o que aprendeu com Cruyff -  tão magistral que venceu absolutamente tudo o que disputou. Hoje o Barcelona ainda tenta manter a filosofia, tem jogadores qualificados, porém ainda não conseguiu um técnico substituto à altura de Pep Guardiola.


P: Por que existe tanto ódio entre torcedores/simpatizantes de Barça e Madrid nas redes sociais? Quando você passa a respeitar a opinião do “rival”?

R: Pelo o que eu notei, o maior motivo da rixa entre a maioria dos culés e madridistas é a rivalidade entre Messi e Cristiano Ronaldo. Poucos discutem sobre outros assuntos.

Eu passo a respeitar a opinião do rival – e até do próprio culé – quando ele deixa de usar os velhos e inúteis argumentos como “9 Champions” e “32 Ligas”; e no caso dos culés, o “Franquismo”. Uma opinião bem formada, com conceitos válidos, e contendo apenas fatos, não tem como ser ignorada ou desrespeitada.

P: Atual campeão da UCL, o Bayern de Munique parece não ter perdido a força. Os Bávaros ostentam de tamanho favoritismo para o bicampeonato ou você enxerga outras equipes na mesma prateleira?

R: Barcelona e Real Madrid sempre serão favoritos, independentemente de qualquer circunstância. No entanto, o Bayern está voando e tem muitas chances de voltar a vencer outra Champions League, ou pelo menos chegar em mais uma final, como vem fazendo nos últimos anos. Mas creio que as únicas equipes capazes de vencer os alemães – com muitíssimo esforço – são Barcelona e Real Madrid, por terem sido eliminadas pelos Bávaros nos últimos encontros. O gostinho de revanche é a motivação. Mas Juventus e o Arsenal também estão fortes. Apesar disso, os italianos foram parar na Liga Europa. Vamos ver a real força dos Bávaros nos jogos contra o Arsenal, pelas Oitavas de Final, que também encontra-se na mesma situação de Barcelona e Real Madrid, com o sangue nos olhos. Já o Atlético de Madrid também está muito bem, mas acho que ainda não aguentaria a pressão da equipe de Pep Guardiola.

P: Em poucos dias teremos Barcelona x M. City. Os comandados de Martino passam por uma oscilação. Já o time de Pellegrini está voando... jogando muito. Confronto equilibrado ou existe algum favorito? Taticamente falando, como anular os Citizens?

R: Acho que mesmo com a atual situação, que parece estar perdida, o Barça ainda é favorito. O Manchester City vem forte, mas ainda não convenceu em competições europeias. Lembra muito a seleção alemã nos últimos anos, que vem detonando todo mundo, mas decepciona em jogos decisivos. Mas como eu disse, os citizens vem jogando muito bem e podem estar escrevendo um lindo capítulo em sua história, e para que isso fique ainda mais inesquecível, eliminar o Barcelona nas Oitavas de Final da Champions (que esteve nas últimas 6 Semi Finais) seria incrível. É bom o Barça tomar cuidado.

Já na parte tática, é difícil dizer uma outra forma de anular uma equipe, já que o Barça do Tata dificilmente muda alguma coisa em relação ao adversário, pois desde a "Era" Guardiola o adversário é quem precisa mudar para anular os blaugranas. O que o time não pode fazer de jeito nenhum é repetir as duas péssimas atuações que fez contra os comandados de Jupp Heynckes, na última temporada. É bom tomar cuidado com o Pellegrini porque ele já conhece o Barça e, quando esteve no Real Madrid, deu mais trabalho que o Mourinho.

P: Já que 2014 é ano de Copa do Mundo, quais seleções você colocaria como favoritas ao título? Por quê?

R: Argentina, Alemanha e Brasil. Sem ordem.

A Argentina tem uma grande seleção, entrosada e que fez uma ótima eliminatória. A Alemanha também vem forte - podemos enxergá-la através da imagem e semelhança com o Bayern de Munique. Já o Brasil, por ter uma boa seleção, um ótimo técnico e um coordenador vencedor – ambos campeões mundiais –, e por jogar em casa (coisa que contou muito na Copa das Confederações e que com certeza será a 12ª arma da canarinho na Copa do Mundo), também é favorito.

A Espanha é a atual campeã, por isso eu já descarto mesmo sabendo que é uma das seleções mais fortes do mundo. Ganhar duas Copas seguidas não é pra qualquer um. O Brasil foi um dos que conseguiu isso e, pelo menos até o Catar, não existirá ninguém capaz de fazer igual.

P: Defina politicamente, Sandro Rosell.

R: Corrupto! Isso serve para definir politicamente a maioria dos políticos.

P: Tantos craques/lendas que passaram pelo Barça. No entanto, não há como negar que sempre teremos “o preferido”. Quem é o seu ídolo? Discorra sobre tudo o que ele representa para você, torcedor Culé.

R: Poucos sabem, mas o meu jogador preferido é o Xavi. Ele é o jogador que mais se parece comigo (não fisicamente) e o que eu mais tento me espelhar.


Ele usa a inteligência dentro e fora de campo, tenta ser o mais discreto possível, é leal, e uma coisa que ele tem que eu adoraria ter é a “classe” que dispõe ao fazer qualquer coisa. É uma pessoa séria... e até acredito que ele ainda treinará o Barça no futuro, mantendo a filosofia que começou com Cruyff e foi aperfeiçoada por Pep.

P: Monte os seus 11 titulares ideais, com esquema. OBS: não vale incluir os que ainda estão em atividade. Algo precisa ser mais complicado

R: Aí complicou mesmo. (rs)

Não é fácil colocar um jogador que eu nunca vi jogar. Mas dá para montar apenas com jogadores que eu já vi atuar. Lá vai um 4-3-3 bem louco.

Taffarel, Cafu, Maldini, Thuram, Roberto Carlos, Patrick Vieira, Beckham, Zidane, Rivaldo, Romário e Ronaldo.


Se fosse no Winning Eleven eu colocaria o Roberto Carlos no ataque, como era de costume. Corre e chuta 19, é craque!

P: Defina, em poucas palavras, a essência/importância de ser um torcedor blaugrana.

R: Tot el món és um clam. Som la gent blaugrana i tant se val d’on venim, si del sud o del nord, ara estem d’acord. UMA BANDERA ENS AGERMANA!

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