sábado, 3 de agosto de 2013

Se é Portaluppi, é losango; O novo velho Grêmio de Portaluppi



O inconfundível sotaque carioca segue no comando do tricolor dos pampas, porém, adornado por uma mística inexplicável e inexorável perante o tempo.  O carioca da gema, Vanderlei Luxemburgo, cedeu seu lugar a Renato Portaluppi, carioca por opção. E, em suas bagagens originaria do Rio de Janeiro, Renato trouxe seu inconfundível losango. Despachando o antiquado meio campo em quadrado de seu antecessor. 

A áurea em torno do ídolo segue inabalável. Porém, Renato persegue algo mais auspicioso. O ídolo quer a canonização, tornar-se uma entidade divina, transcendental. E sua busca só terá fim quando o pedregoso caminho resultar em títulos. 

O clima de fim de festa entre Luxemburgo e vestiário/direção cessou com a pomposa chegada de Renato. Se o casamento estava desgastado, Renato pôs torcida e clube em lua de mel. Se há exigências em ser ídolo, há benefícios. A cobrança será lenta, quase que imperceptível e, caso resultados não florescerem, gradual.

As engrenagens do tricolor dos pampas seguem emperradas, carecem de graxa para bom funcionamento. Com Portaluppi como mecânico, a solução será motivação como elemento principal. O perfil do treinador promete sacolejar o clima desalentador do vestiário e resgatar o tradicional DNA aguerrido do clube.
Renato permanece fiel ao seu losango. O esquema, originário da Itália, segue o mesmo, porém, estrategicamente modificado. 

No Grêmio, Renato Portaluppi organizou um 4-4-2 em losango com tripé astuto de volantes. Para quem gosta de desdobramentos em quatro faixas de campo, é um 4-3-1-2 (embora os volantes não estejam alinhados, o que contradiz o princípio deste tipo de descrição tática). O posicionamento dos carrilleros tricolores é mais a frente do que o natural. 

O vértice inicial segue uma incógnita, ou Renato opta por Adriano, típico volante “quebrador”, atua somente na fase defensiva, ou, Souza, volante de passadas largas e com qualidade no passe; na segunda linha, à frente, ficam Zé Roberto (esquerda) e Riveros/Souza (direita); Elano é o enganche, fazendo a conexão com o ataque formado por Kléber/Vargas e Barcos, na teoria.
*Obs: Devido à lesão de Zé Roberto, Souza deve assumir posto de Zé. Vargas igualmente lesionado perde posição para Kléber.

Há uma compensação para guarnecer o meio-campo “solto” (Contra o Botafogo com Zé Roberto e Souza como carrilleros e contra Fluminense com Zé e Riveros quando o lado esquerdo ficou exposto em demasia). Os laterais, Pará (direita) e Alex Telles (esquerda) ficam mais fixos, formando a ultima linha com Bressan e Werley e Adriano, plantado à frente. Atua-se com lateral-base, sem avançar, ou com avanços conservadores. Entretanto, com volantes de oficio (Souza/Ramiro/Biteco e Riveros), Renato libera o lateral que se encontra no flanco atacante e prende o lateral oposto. Adriano segue na proteção à zaga, o cão de guarda, flutuando no meio campo para ser o primeiro combatente.

A transição defensiva tricolor é ágil. Recompõem-se com dinâmica interessante, sem deixar brechas. Em parte por laterais estarem presos formando a linha defensiva ao lado de zagueiros e Adriano executar função estritamente defensiva em frente aos zagueiros. Portanto, a dinâmica fica a mercê dos carrilleros, que possuem presença ofensiva e precisam realizar recomposição com velocidade.

Legenda: transição defensiva com tripé de volantes fechados e estreito. Sete jogadores recompondo frente a linha defensiva.

Realizada a transição defensiva é formado o posicionamento defensivo. Simples e extremamente trivial. Sete jogadores compõe o sistema defensivo em boco blaixo: primeira linha defensiva composta por laterais e zagueiros; tripé de volantes que recuados; Enganche e avantes não participam defensivamente. A marcação tende a ser estreita e compacta, mas não é via de regra, há momentos lúcidos e apagões. A marcação é solta próximo ao meio-campo e apertada a partir dos três quartos do campo defensivo. Falta ao Grêmio maior sincronia entre volantes e laterais na marcação para não ceder espaço e avanços, mas, pode ser estratégico, pois o tripé de volantes é fechado, com volantes próximos, mas que não basculam no sentido da bola.

Legenda: Grêmio postado no losango compacto, linhas próximas, sem brechas entre elas e estreito,com jogadores próximos quanto a largura. Sete jogadores agrupados, o tripé de volantes congestionando a entrada da grande área. 

A função de carrillero/box-to-box (exercido no Grêmio por Riveros e Zé Roberto/Souza) é essencial para o losango, lhes convido a entender o Box-to-box: “Box-to-box é uma referência ao jogador que faz, no meio-campo central, o ‘vai-vem’. Box significa área, em inglês, portanto a tradução é ‘de área a área’. A definição é claríssima: o jogador que sem a bola posiciona-se defensivamente à frente da própria área, e quando a equipe recupera a bola aproxima-se dos atacantes, nos arredores da área adversária. Atuar nos dois campos é prerrogativa básica desta tática individual.”.

Momentaneamente o Grêmio ainda é um rascunho, persistem resquícios de Vanderlei no tricolor e é sedo para constatar algo concreto de Portaluppi na equipe, a não ser o fatídico losango no meio-campo. E nesta faixa de campo reside a patologia tricolor: criar. A equipe sofre com abstinência de chances, e Elano não se caracteriza “pifador” nato.

“O enganche atua como o elo entre o meio-campo e a linha da frente, é o jogador que opera no “vazio” entre a defesa e o meio-campo da equipa contrária e tenta assim, usando esse espaço, criar situações de golo para os dianteiros e restante equipa. É um jogador que atua na altura dos três quartos do campo, alternando situações de finalização com a construção de jogo”.

Devido ao posicionamento defensivo ser em bloco baixo, a transição ofensiva depende dos carrilleros, pois, Elano não compacta com os restantes e não recua para iniciar organização ofensiva. Corriqueiramente Zé Roberto assume este papel e transita em velocidade entre defesa e ataque. Atuando fora de casa à transição é ineficaz, pois atua em velocidade, mas com poucos homens no campo ofensivo do adversário e sem vitoria pessoal dos avantes no contato direto com zagueiros.

Postado ofensivamente o tricolor encontra imensa dificuldade em furar bloqueios. A equipe é dependente dos carrilleros para criação. O enganche, Elano, é tímido em campo, rende-se facilmente a marcação e pouco organiza, restringe-se aos três quartos do campo ofensivo. A presença ofensiva dos carrilleros é o ponto positivo com Zé esboçando criação e Riveros presente na área adversária. Porém, o apoio conservador dos laterais frustra qualquer dobradinha entre carrillero e lateral.

A bomba sempre estoura no ataque. Kléber e Barcos formam dupla de avantes. Não há presença do típico velocista, ou saca-rolha. "Saca-rolha" moderno, pois, o ponta, "saca-rolha" de época, foi crucificado, morto e sepultado. Porém, o intuito segue o mesmo. Jogador que desmorona defesas pétreas. Ele mexe na marcação alheia, desencaixando as peças do ferrolho e abrindo espaços.

Kléber quando rodeia a grande área o faz de costas, fazendo pivô e cavando faltas, geralmente excelentes oportunidades, pois Elano cobra faltas com primazia, porém, torna o jogo truncado, lento e fornece chance do adversário se postar defensivamente. Kléber, definitivamente, não é atacante de movimentação. Seu corpanzil não casa com características de um atacante de movimentação.

Barcos vive seu inferno astral. A bola chega mascada em seus pés. Seus membros inferiores parecem ter se tornando “canelas”, pois as domina com imensa dificuldade. Suas excursões fora da área tornaram-se improdutivas e previsíveis. Uma usina nuclear para acender um palito de fósforo.

A esperança reside em Vargas, chileno que, no momento, esta lesionado e em período de adaptação em Porto Alegre, pois não revive áureos tempos de Universidad de Chile. 

GRE-NAL
Para o Gre-Nal Renato faz mistério, a tendência é de que a equipe seja formada com: Dida; Pará, Werley (Rhodolfo), Bressan e Alex Telles; Riveros, Souza, Elano e Maxi Rodriguez; Kleber e Barcos.

Legenda: Provável Grêmio para o clássico. O esquema segue o mesmo, as peças mudam e devem alterar a dinâmica da equipe.

O losango deve seguir no meio-campo com: Souza atuando como vértice inicial; na segunda linha, pouco à frente, ficam Elano (direita) e Riveros (esquerda); Maxi o enganche, fazendo a conexão com o ataque formado por Kléber e Barcos.

Com Souza na primeira função o primeiro passe deve ter maior qualidade. A diferença reside no enganche Maxi Rodriguez. Uruguaio com maior movimentação, se comparado a Elano. E o próprio Elano atuando como carrillero, terá fôlego?

Segue o clichê: Clássico é clássico e vice-versa, imortalizou o poeta da grade área Mario Jardel. 


TEXTO DO EDUARDO PAPKE ROCHA

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