O inconfundível sotaque carioca
segue no comando do tricolor dos pampas, porém, adornado por uma mística
inexplicável e inexorável perante o tempo.
O carioca da gema, Vanderlei Luxemburgo, cedeu seu lugar a Renato
Portaluppi, carioca por opção. E, em suas bagagens originaria do Rio de
Janeiro, Renato trouxe seu inconfundível losango. Despachando o antiquado meio
campo em quadrado de seu antecessor.
A áurea em torno do ídolo segue
inabalável. Porém, Renato persegue algo mais auspicioso. O ídolo quer a canonização,
tornar-se uma entidade divina, transcendental. E sua busca só terá fim quando o
pedregoso caminho resultar em títulos.
O clima de fim de festa entre
Luxemburgo e vestiário/direção cessou com a pomposa chegada de Renato. Se o
casamento estava desgastado, Renato pôs torcida e clube em lua de mel. Se há
exigências em ser ídolo, há benefícios. A cobrança será lenta, quase que
imperceptível e, caso resultados não florescerem, gradual.
As engrenagens do tricolor dos pampas seguem
emperradas, carecem de graxa para bom funcionamento. Com Portaluppi como
mecânico, a solução será motivação como elemento principal. O perfil do
treinador promete sacolejar o clima desalentador do vestiário e resgatar o tradicional
DNA aguerrido do clube.
Renato permanece fiel ao seu
losango. O esquema, originário da Itália, segue o mesmo, porém,
estrategicamente modificado.
No Grêmio, Renato Portaluppi
organizou um 4-4-2 em losango com tripé astuto de volantes. Para quem gosta de
desdobramentos em quatro faixas de campo, é um 4-3-1-2 (embora os volantes não
estejam alinhados, o que contradiz o princípio deste tipo de descrição tática).
O posicionamento dos carrilleros tricolores é mais a frente do que o natural.
O vértice inicial segue uma
incógnita, ou Renato opta por Adriano, típico volante “quebrador”, atua somente
na fase defensiva, ou, Souza, volante de passadas largas e com qualidade no
passe; na segunda linha, à frente, ficam Zé Roberto (esquerda) e Riveros/Souza
(direita); Elano é o enganche, fazendo a conexão com o ataque formado por
Kléber/Vargas e Barcos, na teoria.
*Obs: Devido à lesão de Zé
Roberto, Souza deve assumir posto de Zé. Vargas igualmente lesionado perde
posição para Kléber.
Há uma compensação para guarnecer
o meio-campo “solto” (Contra o Botafogo com Zé Roberto e Souza como carrilleros
e contra Fluminense com Zé e Riveros quando o lado esquerdo ficou exposto em
demasia). Os laterais, Pará (direita) e Alex Telles (esquerda) ficam mais
fixos, formando a ultima linha com Bressan e Werley e Adriano, plantado à
frente. Atua-se com lateral-base, sem avançar, ou com avanços conservadores. Entretanto,
com volantes de oficio (Souza/Ramiro/Biteco e Riveros), Renato libera o lateral
que se encontra no flanco atacante e prende o lateral oposto. Adriano segue na
proteção à zaga, o cão de guarda, flutuando no meio campo para ser o primeiro
combatente.
A transição defensiva tricolor é
ágil. Recompõem-se com dinâmica interessante, sem deixar brechas. Em parte por
laterais estarem presos formando a linha defensiva ao lado de zagueiros e
Adriano executar função estritamente defensiva em frente aos zagueiros.
Portanto, a dinâmica fica a mercê dos carrilleros, que possuem presença
ofensiva e precisam realizar recomposição com velocidade.
Legenda: transição defensiva com tripé de volantes fechados e
estreito. Sete jogadores recompondo frente a linha defensiva.
Realizada a transição defensiva é formado o posicionamento defensivo. Simples e
extremamente trivial. Sete jogadores compõe o sistema defensivo em boco blaixo:
primeira linha defensiva composta por laterais e zagueiros; tripé de volantes
que recuados; Enganche e avantes não participam defensivamente. A marcação
tende a ser estreita e compacta, mas não é via de regra, há momentos lúcidos e
apagões. A marcação é solta próximo ao meio-campo e apertada a partir dos três
quartos do campo defensivo. Falta ao Grêmio maior sincronia entre volantes e
laterais na marcação para não ceder espaço e avanços, mas, pode ser
estratégico, pois o tripé de volantes é fechado, com volantes próximos, mas que
não basculam no sentido da bola.
Legenda:
Grêmio postado no losango compacto, linhas próximas, sem brechas entre elas e
estreito,com jogadores próximos quanto a largura. Sete jogadores agrupados, o
tripé de volantes congestionando a entrada da grande área.
A função de carrillero/box-to-box
(exercido no Grêmio por Riveros e Zé Roberto/Souza) é essencial para o losango,
lhes convido a entender o Box-to-box: “Box-to-box
é uma referência ao jogador que faz, no meio-campo central, o ‘vai-vem’. Box
significa área, em inglês, portanto a tradução é ‘de área a área’. A definição
é claríssima: o jogador que sem a bola posiciona-se defensivamente à frente da
própria área, e quando a equipe recupera a bola aproxima-se dos atacantes, nos
arredores da área adversária. Atuar nos dois campos é prerrogativa básica desta
tática individual.”.
Momentaneamente o Grêmio ainda é
um rascunho, persistem resquícios de Vanderlei no tricolor e é sedo para
constatar algo concreto de Portaluppi na equipe, a não ser o fatídico losango
no meio-campo. E nesta faixa de campo reside a patologia tricolor: criar. A
equipe sofre com abstinência de chances, e Elano não se caracteriza “pifador”
nato.
“O
enganche atua como o elo entre o meio-campo e a linha da frente, é o jogador
que opera no “vazio” entre a defesa e o meio-campo da equipa contrária e tenta
assim, usando esse espaço, criar situações de golo para os dianteiros e
restante equipa. É um jogador que atua na altura dos três quartos do campo,
alternando situações de finalização com a construção de jogo”.
Devido ao posicionamento
defensivo ser em bloco baixo, a transição ofensiva depende dos carrilleros,
pois, Elano não compacta com os restantes e não recua para iniciar organização
ofensiva. Corriqueiramente Zé Roberto assume este papel e transita em
velocidade entre defesa e ataque. Atuando fora de casa à transição é ineficaz,
pois atua em velocidade, mas com poucos homens no campo ofensivo do adversário
e sem vitoria pessoal dos avantes no contato direto com zagueiros.
Postado ofensivamente o tricolor encontra imensa dificuldade em furar
bloqueios. A equipe é dependente dos carrilleros para criação. O enganche, Elano,
é tímido em campo, rende-se facilmente a marcação e pouco organiza,
restringe-se aos três quartos do campo ofensivo. A presença ofensiva dos
carrilleros é o ponto positivo com Zé esboçando criação e Riveros presente na
área adversária. Porém, o apoio conservador dos laterais frustra qualquer
dobradinha entre carrillero e lateral.
A bomba sempre estoura no ataque.
Kléber e Barcos formam dupla de avantes. Não há presença do típico velocista,
ou saca-rolha. "Saca-rolha" moderno, pois, o ponta,
"saca-rolha" de época, foi crucificado, morto e sepultado. Porém,
o intuito segue o mesmo. Jogador que desmorona defesas pétreas. Ele
mexe na marcação alheia, desencaixando as peças do ferrolho e abrindo espaços.
Kléber quando rodeia a grande área o faz de costas, fazendo pivô e cavando
faltas, geralmente excelentes oportunidades, pois Elano cobra faltas com
primazia, porém, torna o jogo truncado, lento e fornece chance do adversário se
postar defensivamente. Kléber, definitivamente, não é atacante de movimentação.
Seu corpanzil não casa com características de um atacante de movimentação.
Barcos vive seu inferno astral. A bola chega mascada em seus pés. Seus membros
inferiores parecem ter se tornando “canelas”, pois as domina com imensa
dificuldade. Suas excursões fora da área tornaram-se improdutivas e
previsíveis. Uma usina nuclear para acender um palito de fósforo.
A esperança reside em Vargas, chileno que, no momento, esta lesionado e em
período de adaptação em Porto Alegre, pois não revive áureos tempos de Universidad
de Chile.
GRE-NAL
Para o Gre-Nal Renato faz
mistério, a tendência é de que a equipe seja formada com: Dida; Pará, Werley
(Rhodolfo), Bressan e Alex Telles; Riveros, Souza, Elano e Maxi Rodriguez;
Kleber e Barcos.
Legenda: Provável
Grêmio para o clássico. O esquema segue o mesmo, as peças mudam e devem alterar
a dinâmica da equipe.
O losango deve seguir no meio-campo com: Souza atuando como vértice inicial; na
segunda linha, pouco à frente, ficam Elano (direita) e Riveros (esquerda); Maxi
o enganche, fazendo a conexão com o ataque formado por Kléber e Barcos.
Com Souza na primeira função o primeiro passe deve ter maior qualidade. A
diferença reside no enganche Maxi Rodriguez. Uruguaio com maior movimentação,
se comparado a Elano. E o próprio Elano atuando como carrillero, terá fôlego?
Segue o clichê: Clássico é
clássico e vice-versa, imortalizou o poeta da grade área Mario Jardel.
TEXTO DO EDUARDO PAPKE ROCHA