quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Alemanha que encanta, mas não vence.

Quando falamos em futebol bem jogado (leia-se seleção) - nos últimos anos - a seleção espanhola surge como a preferida de muitas pessoas. Para uns, um futebol chato e que chega a dar sono. Para outros, é a escola de controlar a partida com passes precisos e jogadas rápidas com bastante inversão de jogo.

Eu tenho o meu ponto de vista. A seleção espanhola venceu uma copa do mundo e a Eurocopa por duas vezes seguidas em um espaço de quatro anos. Méritos totais da Fúria. No entanto, a seleção que mais me chama a atenção e encanta pelo jogo envolvente e pela dinâmica imposta dentro de campo é a Alemanha. Calma! Não estou dizendo que os germânicos são os melhores do mundo. Apenas uma opinião pessoal. Como a sua, caro leitor.

Podem questionar que não ganha nada faz um bom tempo. Verdade. Desde o título da Eurocopa de 1996 a Alemanha vem batendo na trave. Porém, aquele futebol chato, pragmático e eficiente de outrora foi “substituído” por outros aspectos que irei apresentar mais adiante.

PRAGMATISMO
Para os que acompanham futebol com frequência, a Alemanha é a típica seleção de chegada. Impõe respeito aos adversários. Seu futebol era reconhecido pelo pragmatismo e a alta eficiência. Tidos como “frios”, os alemães, usando a palavra de moda, eram letais. Não escondiam o lado defensivista. Entretanto, a elegância também era notada pelos lados de lá. Basta lembrar de Franz Beckenbauer. O homem que foi ímpar na arte de jogar como líbero. Atuava atrás dos zagueiros e tinha a total liberdade para criar as jogadas pela esquerda e/ou direita. Uma exceção no mundo de iguais. A seleção de 1990 venceu a copa, mas não encantou. Chegou à final em 2002 com o resultado mínimo (1x0) nas oitavas, quartas e semi. Até perderem para o Brasil.

A GAROTADA
Após a eliminação precoce na Eurocopa de 2004, ainda na 1ª fase, algo precisava ser feito. Já que em dois anos o time disputaria uma copa do mundo em casa. O primeiro passo foi chamar o eterno ídolo, Jürgen Klinsmann, para comandar o time. A renovação foi sendo feita pouco a pouco e o time foi terceiro colocado em 2006 sob aplausos da nação.

Klinsmann saiu do comando após o fim da copa. Para o seu lugar foi chamado Joachim Löw. Até então, o assistente de Jürgen. Ainda com o pensamento de rejuvenescer seu time, Löw levou a Alemanha ao vice-campeonato da Eurocopa em 2008. Quando perderam para a Espanha. Fato que também ocorreu na semifinal da Copa do Mundo em 2010. Mas a seleção continuava lançar bons e jovens jogadores. Ainda sob o comando de Löw, a Alemanha chegou às semifinais da Eurocopa em 2012, quando sucumbiram diante da Itália. Os resultados são bons. Sempre batendo na trave. Porém, o que chama mais a atenção dos que acompanham futebol é a boa e habilidosa safra. Vai muito dos clubes da liga local (Bundesliga) apostarem nas categorias de base e montarem seus times com jogadores do País.

A FORMAÇÃO


O time joga no 4-2-3-1. O chamado esquema da moda não pode ser “moda” para qualquer seleção. É preciso ter os jogadores certos para executarem tais funções. O time que vocês estão vendo na imagem é o de minha preferência e já foi utilizado várias vezes por Löw. No entanto, existem várias opções e diversos jogadores que podem ser encaixados no lugar de um ou de outro. Fique sempre com a sua opinião.

DEFESA
Os jogadores Neuer, Lahm, Hummels e Mertesacker são titulares incontestáveis. O grande problema vem sendo na lateral esquerda. Badstuber vem atuando por essa faixa de campo, mas não convence aos torcedores e a imprensa. É o típico zagueiro/lateral travado com a bola e duro na marcação. Não vai tanto ao ataque e permite que Lahm desempenhe o papel. Com isso, Badstuber chega a fechar como um 3º zagueiro quando o time está no ataque. Mas vem sendo muito criticado ultimamente.

 Por isso o lateral direito Lahm também pode ser improvisado na esquerda, com o também criticado Boateng na direita. Hummels, jogador do Borussia Dortmund, possui uma classe ímpar e tem técnica apurada. Zagueiro de muita qualidade. Faz muito bem a cobertura e é veloz.

Lahm é o ponto de equilíbrio da defesa. Capitão e versátil, o lateral tem bastante força ofensiva. Não fica a mercê de ir apenas à linha de fundo e cruzar para alguém. É um dos laterais “modernos” que gostam de centralizar e fazer tabelas. Tem um ótimo chute de fora da área e está sempre pedindo jogo.

VOLANTES
Khedira e Schweinsteiger se movimentam muito. Não ficam restritos as posições demonstradas na imagem. Alternam com muita frequência as posições. Atuam de forma simplória e com passes primorosos. Não são vistos como aqueles volantes fortes, que param algumas jogadas na violência. Sabem fazer a marcação, mas também ditam o ritmo de jogo. Sabem chegar a gol e são versáteis. Schweinsteiger atuou muito tempo como um ponta aberto pela esquerda. Já Khedira fez o lado direito no Stuttgart e mais recentemente no jogo contra a Itália, na Eurocopa. Dão maior tranquilidade para que Ozil possa trabalhar.

LINHA DE 3
Sendo bem protegido pelos volantes, Ozil tem total liberdade para cair pelos lados. Não fica apenas centralizado e esperando a bola no pé. Está sempre em intensa movimentação com Müller e Reus e o seu passe, atuando pelo meio, é fatal. Ozil tem visão de jogo apuradíssima e se destaca pelas suas assistências. Ao ter a proteção dos volantes e a profundidade de um dos pontas, também chega dentro da área. O que sobrecarrega o sistema defensivo do adversário...abrindo espaços para os que chegam de trás.

Thomas Müller não é um autêntico ponta velocista. Pensa mais o jogo e tem um excelente passe. Compacta bem a defesa na hora em que o adversário ataca a Alemanha e desempenha um bom papel tático. Faz o papel de inversão com primazia e se infiltra bem dentro da área. Tanto que foi artilheiro da última copa do mundo e atravessa bom momento em seu clube (Bayern de Munique). Já Marcos Reus é uma das jóias germânicas. Com apenas 23 anos o jogador do Borussia Dortmund tem boa visão de jogo, atua muito bem em profundidade e finaliza bem em gol. A rotatividade é intensa e o time, quando preso na marcação, envolve o adversário com tabelas fortes, rápidas e precisas.

CENTROAVANTE
Muitos preferem o matador Mario Gómez. Implacável goleador e que abre espaços para quem vem de trás poder finalizar.
Coloquei Miroslav Klose na escalação em função da sua mobilidade. Muitos se lembram dele apenas como um bom cabeçeador. No entanto, Klose sai bem da área e faz boas tabelas com os homens que vem de trás ou com os pontas que também afunilam na hora de furar o bloqueio adversário. Isso abre os espaços para os homens das laterais.

EXEMPLOS

Lahm pela direita: Centraliza, com um homem aberto pela direita, e aproveita para chegar em gol.


Lahm pela esquerda: Corta para o pé trocado e chute de fora da área.



Khedira: Adversário fechado e o volante entra como elemento surpresa.


Schweinsteiger: volante moderno. Marca bem e sabe sair pro jogo. Nessa jogada dá pra perceber o quão forte é o seu poder ofensivo ao chegar como elemento surpresa, driblando e servindo o jogador dentro da pequena área.

Ozil: Não acomoda em ficar apenas no meio. Cai pela direita e Reus entra na área.


Reus: aprofundando a jogada. Recebe pela ponta esquerda e cruza para a referência (centroavante) dentro da área pra fazer o gol.


Klose: Artilheiro nato. No entanto, consegue sair bem da área pra dar boas assistências (vide o jogo contra a Inglaterra – copa 2010). Essa, para mim, é a grande diferença entre ele o Mario Gomez. Nessa imagem ele vai dar a assistência para Müller chegar batendo.


Muller: Atua pela direita e também pode jogar pelo meio. Jogador que sempre está chegando dentro da área para concluir as jogadas e fazer seus gols. Na imagem ele recebe o passe de Klose.


Bem, pessoal. É isso!
A seleção que escalei foi por opção minha. Mas a Alemanha ainda tem grandes jogadores de valor que podem atuar no time titular: Stegen, Schmelzer. Howedes, Draxler, Holtby, Gotze, Shurlle, Kross, M. Gomez, etc.

Ainda não entrei pra valer nos aspectos táticos em detrimento da minha preguiça. Confesso!
Porém, é sempre legal ver e saber como os times jogam, se movimentam e concluem as suas jogadas.

Agradecimentos: Eu, Raniery, agradeço aos colegas Victor Oliveira e Leonardo Fernandes. O primeiro por ter feito o campinho das escalações e o segundo por ter postado o texto. Obrigado, amigos.

Abraço!

2 comentários:

  1. Já já o pessoal vai achar que estou louco e me auto elogiando, kkk. Mas agradeço as palavras, Victor Oliveira.

    Victor Oliveira: Raniery Medeiros, sensacional seu texto e a coerência de seus argumentos, além do seu imenso respeito com o leitor! Junto com as informações, os flagrantes táticos ficaram perfeitos na exemplicação do que escreveu. E também foi uma viagem no tempo, afinal estão ali o golaço de Lahm na Copa de 2006, o gol de Khedira contra a Grécia na última Euro e a versatilidade que os alemães estão demonstrando desde 2004. Bem lembrado o lado técnico e elegante da Alemanha de Beckembauer, muitas vezes esquecido! Como já te disse, eu só mudaria tirando Badstuber e Klose. Minha equipe teria Lahm na esquerda e Boateng na direita, com Super Mario no ataque. Klose é um bom resera! Muito bem explicada a questão da versatilidade do time e o histórico que fez dessa renovação, que bate na trave mas também encanta por demonstrar um novo futebol alemão. Você disse no texto que não se aprofundou taticamente, porém explicou com maestria a dinâmica do meio campo, coração desse time impetuoso e obediente taticamente! Um dos melhores textos que já escreveu, totalmente didático e interessante! E, além do meio, desenhou as centralizações de Lahm e explicou como o time se comporta com Badstuber! Completo! Parabéns amigo, nota 11!!!

    ResponderExcluir